terça-feira, 21 de dezembro de 2010

À maneira de Caim



A história de Caim e Abel é conhecida. Caim era o primogênito filho de Adão e Eva, e irmão mais velho de Abel. Caim dedicou-se a lavrar a terra, e Abel tornou-se pastor de ovelhas. Certo dia, Caim resolveu fazer uma oferenda a Deus, do fruto da terra que lavrara. Abel também ofertou ao Senhor Deus, mas um novilho, das primícias de seu rebanho, um sacrifício de gordura em holocausto. Deus se agradou da oferta de Abel, mas não atentou para a oferta de Caim.
Muito se discute a razão de Deus ter rejeitado a oferta de Caim. O texto sacro não afirma que Caim foi displicente, nem que ofereceu coisa de qualidade inferior ao que tinha condições de ofertar. Tudo o que se sabe é que Deus rejeitou a oferta de Caim.
Após isso Caim se irou mui profundamente, descaindo-lhe o semblante. Era o retrato dos sentimentos carnais à flor da pele, um misto de ira e decepção. Caim certamente estava decepcionado porque imaginava que Deus se agradaria de sua oferta, pois suas intenções eram boas. Caim desejava agradar a Deus, mas a forma escolhida aparentemente não agradou ao Senhor, e suas boas intenções ainda foram ofuscadas pela oferta aprazível de Abel a Deus. A inveja, o despeito e a ira possuíram o coração de Caim, de forma que não mais pôde se dominar, e assassinou seu irmão Abel.  
Em virtude do texto sacro não deixar explícito a razão pela qual Deus rejeitou a oferta de Caim, o famoso escritor português José Saramago, refletindo certamente o pensamento de muitos outros, disse, em deboche, ser Deus o responsável pelo primeiro homicídio na face da terra, ao desprezar a oferta de Caim. Tal pensamento é o retrato do sentimento de revolta contra a vontade soberana de Deus. De Caim surge uma geração de seres humanos separados da presença de Deus.
Ao que parece, para tais pessoas, Deus não teria sido “gentil e educado”. Deus deveria ter aceitado a oferta de Caim para não desapontá-lo, evitando o desencadear do que veio a ser o primeiro homicídio. De fato, é a constatação que fazemos de uma pessoa que recebe um presente e diz não ter gostado para a pessoa que o presenteou. A verdade nua e crua poderia ser evitada não apenas por uma questão de etiqueta, mas para não gerar mágoas e feridas desnecessárias. Afinal, será que valeria a pena ferir os sentimentos de alguém que apenas quis agradar?
Contudo, nem sempre a etiqueta que se poderia estar exigindo de Deus no caso de Caim e Abel é aplicável em todas as situações de nossas vidas. É inevitável, por exemplo, que uma mulher resolva não atentar para as gentilezas de um pretendente quando este, por alguma razão pessoal, não lhe agrada. Caso ela dê atenção demasiada, por gentileza ou educação, estará criando falsas esperanças no rapaz. Em determinado momento ela terá que dizer que não tem interesse nele, e embora seu desejo não seja o de ferir seus sentimentos, a geração de uma mágoa talvez seja inevitável. Igualmente acontece na relação entre patrão e cozinheiro. Por mais que um cozinheiro tenha se esforçado e utilizado de seus melhores dons para preparar um alimento saboroso para seu patrão, isso não necessariamente garantirá a satisfação do patrão, que, por preferências pessoais, ou seja, alheias ao esforço e ao trabalho do cozinheiro, pode não vir a gostar.  E se o patrão, que deseja comer apenas aquilo que lhe seja aprazível, não revelar a verdade ao cozinheiro, comerá a contragosto, sem prejuízo do salário que terá que pagar ao cozinheiro, que não tem culpa por não conhecer as preferências do patrão.
Todo esse dilema entre a “intenção de agradar” e o “ter agradado” ilustra perfeitamente o pensamento humano acerca das religiões. A maioria das pessoas acredita na existência de um Deus, mas em tempos de uma apregoada Nova Era, é politicamente incorreto se afirmar que Deus se revelou decisivamente em Jesus. O relativismo religioso aparenta ser tolerante, mas será que possui alguma chance de ser verdadeiro?
Um exemplo; É por uma obviedade lógica que, se existe reencarnação, o homem não morre apenas uma só vez, sobrevindo após isso o juízo (Hebreus 9.27). Ou pessoas sem Deus irão para o inferno, ou seus espíritos serão aperfeiçoados em processos de reencarnação. Não há como tais coisas serem simultaneamente verdadeiras. As religiões contrastam entre si em seus dogmas e é impossível que todas sejam simultaneamente verdadeiras. Por saberem disso, alguns dos movimentos “New Age” apregoam caminhos espirituais individuais, onde cada um escolhe o seu caminho, abraçando aquilo que julga ser a verdade em cada religião que encontra.  Parece psicologicamente mais fácil aceitar que o importante não são os meios de se alcançar a Deus, mas a intenção. Todo aquele que tem intenção genuína de agradar a Deus, independentemente da forma, alcançará a atenção de Deus. Mas será que isso realmente procede?
No Evangelho de João, capítulo terceiro, Jesus Cristo faz diversas afirmações audaciosas (João 3.16-21): Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. Em João, capítulo 14.6 Jesus diz: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
Como se vê, Jesus Cristo, sem meias palavras, afirma categoricamente que apenas por ele, e por meio dele, é possível agradar a Deus. Fica subentendido também que antes dele, todos os homens, bons e maus, estavam em trevas. As trevas simbolizam a ignorância a respeito de Deus. Contudo, mesmo em trevas há aqueles que amam a verdade, e outros que não amam a verdade. Desta forma, aquele que ama a verdade, mesmo que ande em trevas, ao ver a luz – que é a verdade – se achega para ela, enquanto aquele que não ama a verdade, ao ver a luz, aborrece-se da mesma, e se afasta dela. Jesus Cristo é, assim, a fundamentação de uma sentença (de condenação ou salvação) que já existia antes da manifestação da própria luz. Em outras palavras, mesmo num mundo de trevas, há aqueles que amam a verdade, e aqueles que não amam a verdade. Quem não ama a verdade já está condenado, mas sua condenação apenas é manifesta em Jesus Cristo. Desta forma, não é pré-requisito para a salvação conhecer a luz, mas amá-la. Assim foram salvos todos os heróis da fé no antigo testamento, ou seja, anteriores ao próprio Cristo. Embora não conhecessem a luz, já a amavam. E nisso se consolidava a fé daqueles homens, pois criam em algo que ainda não tinham sequer visto. É o que a Bíblia assevera em Hebreus 11.1: Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Aqueles homens, pela fé, já entendiam o que Abel havia entendido, mas que Caim não entendeu. Aqueles homens entenderam que o pecado faz separação entre Deus e o homem, e que quando Deus, ainda assim, não condena o homem, está na verdade sacrificando a si mesmo, ou seja, abrindo mão de si mesmo para o bem do homem. Não apenas isso! Aqueles homens entendiam que Deus, assim, retribuía o mal com o bem, o ruim, com o que existia de melhor.  Por isso a oferta de Abel agradou a Deus, pois ela possuía toda a essência do amor de Deus. Já a oferta de Caim, por melhor que fosse sua intenção, era destituída de profundidade e de maior significado. Deus, ao não atentar para oferta de Caim, deu ao mesmo a grande oportunidade de realmente agradar a Deus (Genesis 4.7-a: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito?”).
A reação de Caim é idêntica a do religioso hodierno ao se deparar com a verdade, que apenas é encontrada em Jesus Cristo. Uma vez que conhece a verdade, aborrece-se dela e cria despeito pela mesma. Assim como Caim alimentou ira por Abel, o religioso hodierno alimenta ira contra a igreja (anunciadora da verdade), criando a sua própria verdade. Ele, uma vez conhecendo a verdade, não se achega para a mesma, pois a verdade denuncia suas más obras, e seu pecado não confesso. Esta pessoa, assim, afasta-se da luz, rumo a densas trevas, onde se anestesiará psicologicamente em busca de um efeito tranqüilizante para sua mente. O pecado, por sua vez, pode ser como o de Caim, que tinha a boa intenção de agradar a Deus, intenção que, todavia, ao se deparar com a verdade, mostra-se falha, assim como a própria oferta. Desta forma, a idéia de agradar a si mesmo torna-se superior a vontade original, que era de agradar a Deus, e nisto temos o orgulho e a soberba, que, uma vez manifestos, desmascaram as intenções veladas do coração.  Se o desejo de Caim fosse puramente o de agradar a Deus, não teria se inflado de ódio, mas procedido, na imediata oportunidade, da maneira correta. Quando o homem se coloca acima do próprio Deus, seus caminhos não o levarão ao coração de Deus, mas ao seu próprio coração.
Por fim, poderia restar o queixume de que Caim se tornara lavrador, e não pastor de ovelhas, o que lhe teria privado de sensibilidade para entender como melhor agradar a Deus. Mas assim também foi para com toda a humanidade, pois Deus escolheu um povo para se revelar, mas por meio de Cristo Jesus estendeu a oportunidade para todos os povos. Não se trata de demérito ao ofício de Caim, mas sim em reconhecer que a oferta de Abel representava melhor o coração de Deus. Assim, mesmo lavrador, Caim tinha no seu irmão Abel o espelho para poder agradar a Deus. Hoje, mesmo quem não nasceu num lugar onde predomine a fé Cristã, ao conhecê-la, tem a oportunidade de se pautar por ela. E isto não é se privar de valores culturais íntimos e indisponíveis, mas um ajustamento destes valores culturais aos valores divinos, que transcendem qualquer língua, povo, nação ou cultura. Somente o orgulho tolo faz o homem desprezar o valor divino por valores terrenos. Quanto àqueles que não conheceram a verdade, ou seja, nunca viram efetivamente a luz, que é Jesus Cristo, Deus é sabedor de todas as coisas, e sabe quem são aqueles que, mesmo em trevas, amam a verdade, e aqueles que não amam a verdade. A luz mostra como as coisas realmente são.
Nas palavras de Simeão ditas a Maria: Eis que este menino (Jesus Cristo) está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição (Lucas 2.34).  


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Intangibilidade Divina


Uma coisa tangível é algo que pode ser tocado, tratado como um fato, como algo concreto. Com o advento do materialismo filosófico, muitas questões ontológicas passaram a ser consideradas sem sentido, uma vez que só o tangível seria real. Uma coisa absolutamente intangível para o homem, segundo a ótica materialista, seria inexistente. É como o sentido da vida. Para um materialista, o sentido da vida é ela mesma, a vida não veio a existir sob um propósito, sua existência é que determina seu propósito. Contudo, se a vida veio a existir sem um propósito, e o seu fim é a morte, concluímos que seu único sentido absoluto é o fim. Em outras palavras, o propósito da existência é não existir, o sentido de viver é morrer.
A idéia de um propósito, entretanto, nos remete a uma idéia de algo anterior a existência, sendo, portanto, algo pré-existente. E quem seria capaz de dar propósito a existência senão o ser pré-existente (Deus)? A existência, assim, seria elemento meramente contingente que dependeria necessariamente de um propósito, que é intangível no plano da existência, só podendo ser aferido no plano da pré-existência.
Imaginemos um pintor e sua pintura. Num quadro, ele cria alguns personagens e cria também o cenário onde os personagens estarão envolvidos. Admitamos, apenas como hipótese ilustrativa, que tais personagens possam realmente interagir com o cenário e entre eles mesmos (como num sofisticado software de computador com inteligência). Para tais personagens, apenas o cenário e eles mesmos são coisas tangíveis. Eles estão alheios, concretamente, à figura do pintor. O pintor, enquanto ser pré-existente à pintura, é intangível aos personagens. Pela ótica do materialismo filosófico, o pintor não existiria de forma alguma, pois estaria fora do que é tangível aos personagens. Para os personagens, o pintor não pode ser visto nem tocado, logo, acreditar em sua existência seria algo irracional. Seria irracional porque, para os personagens, somente é real o que está inserido no cenário. Fica fácil ver, através da ilustração, a magnitude do engano da visão materialista.
O erro se torna ainda maior porque o pintor, estando além do plano da pintura, está também presente nela na forma de consciência, ou seja, a pintura é idéia/concepção/idealização do pintor. É a abstração que ganhou elementos de concretude. Na pintura são aferíveis alguns elementos do pintor, podendo ela revelar desde traços de sua personalidade até finalidades e propósitos de coisas e eventos circunscritos no plano da pintura, desejados pela imaginação e poder criativo do pintor.
Fica claro na ilustração que o pintor corresponde a Deus, a pintura corresponde à humanidade e o cenário seria o universo material. O absurdo do ateísmo, alicerçado em suas bases filosóficas materialistas, ignora o conceito da ilustração, atribuindo ao contingente (a pintura) as características do necessário e pré-existente. O ateísmo é a última forma de idolatria, pois atribui aos homens e a matéria as características de Deus. Segundo essa visão, o universo é o pré-existente e sua lógica adveio de uma combinação do acaso. Em última análise, os atributos divinos impossíveis de serem atribuídos ao próprio universo são atribuídos ao “deus acaso”. Não é muito diferente dos primitivos cultos a imagens de escultura, ao sol ou a lua (abominados por Deus por confundir criador e sua criação). É apenas mais sofisticado. Na esteira do materialismo filosófico, a ideia de divindade, base do surgimento de todas as civilizações conhecidas até hoje, seria, na verdade, fruto da imaginação do homem, ou seja, o homem novamente atribuindo os atributos de Deus ao contingente, no caso, à sua própria imaginação.
Tal visão é irônica, pois nos faz presumir que caso um dia o homem acumule toda ciência contida de forma difusa e desorganizada no universo, este homem personificaria exatamente a figura que conhecemos como Deus, no que se refere ao atributo da onisciência. Caso este homem, em posse de toda ciência, pudesse manipulá-la, de forma a criar galáxias, matéria e vida, este homem personificaria exatamente a figura que conhecemos como Deus, no que se refere ao atributo onipotência. Difícil mesmo seria conceber que tal homem fosse onipresente, visto ser um ser material. O homem, mesmo adquirindo todo poder e conhecimento, ainda seria uma imagem deficiente de Deus, com bastante semelhança, mas não idêntica a do ser necessário que é Deus. Por isso Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, pois se partirmos rumo ao início de tudo, lá estará ele, e se partirmos com destino ao último nível de evolução possível, lá estará Deus. Deus independe da criação para ser o que é, mas a criação depende de Deus para ser o que é.
A ciência evoluirá ao ponto do homem descobrir como driblar a morte? A ciência evoluirá ao ponto do homem trazer pessoas que já morreram de volta a vida? Se um dia tais coisas forem possíveis, o homem ainda será apenas uma figura caquética do Deus todo poderoso. Isso lembra a lenda de Buda e o macaco Son Goku. Se Son Goku conseguisse ir além dos domínios do poder de Buda, receberia o domínio do céu. Son Goku então voa até muito longe e pousa numa montanha, deixando nela a sua marca, acreditando já estar muito longe dos domínios de Buda.  Buda então mostrou um dos seus dedos que estava com a marca deixada por Son Goku. A montanha nada mais era que um dos dedos da mão de Buda.
Fugir de Deus é como a ilusão do macaco Son Goku. No fim da fuga (morte do universo), o homem fatalmente se deparará com o criador. Tudo que tem um início tem necessariamente um fim.

domingo, 20 de junho de 2010

Leis Espirituais e a Natureza de Deus




O universo é composto de leis que determinam como as coisas que conhecemos são. A lei é, na verdade, uma abstração de uma condição existente para que algo seja de uma determinada maneira. Abstraímos, por exemplo, que para termos o que conhecemos como água, deve-se haver determinada composição de hidrogênio com oxigênio. Não se adquire água com moléculas de carbono, por exemplo. A lei, por isso, é uma mera abstração de algo que foi observado como um padrão. Lei, como se quer definir neste texto, é nada mais que um padrão. As leis, por sua vez, determinam comportamentos no tempo e no espaço, de forma que, caso uma variável de um padrão determinado pela lei seja alterada, haverá alguma conseqüência sobre o comportamento predeterminado pela lei no tempo e no espaço. Um exemplo de fácil visualização é a flora e a fauna. Se uma floresta é devastada, houve uma mudança no padrão do ecossistema, e a conseqüência natural é que os animais que dependiam da floresta irão morrer, ou irá haver superpopulação de algumas espécies (mosquitos, por exemplo) devido o desaparecimento de outras (sapos e camaleões, por exemplo). Essa nova variável altera o padrão preexistente, instaurando outro padrão. Pela Lei da Gravidade, sabemos que há uma enorme diferença entre pular um degrau de escada e entre pular de um edifício sem pára-quedas. A existência de leis pressupõe respeito a seus ditames, caso se queira manter os padrões que elas determinam. Toda lei pressupõe um dever-ser, que é aferido na lógica de um padrão, cujo desrespeito impõe uma conseqüência, que estabelece um novo padrão, um novo equilíbrio. O indivíduo que ignora as leis da física e salta de um edifício sem pára-quedas, rumo ao chão firme, não pode esperar sair incólume. Sairá, certamente, muito ferido ou morto, porque o corpo não suporta tamanho impacto. Se não fosse dessa forma, os homens seriam como os astronautas no espaço: nada do que conhecemos existiria, não fosse uma lei da física que nos faz ter os pés firmes no chão, bem como impede, por conseqüência lógica, que um homem salte de um edifício sem pára-quedas rumo ao chão, e saia ileso. As próprias leis humanas seguem a mesma lógica. Ao homicida a lei impõe determinada pena, com o fim de não se distanciar do padrão de dever-ser que foi alterado pelo crime, estabelecendo novamente um equilíbrio próximo do anterior ao alterado. Isso ocorre porque concebemos como padrão que a vida humana deve ser preservada. Não houvesse uma lei determinando punição ao homicida, qualquer um poderia matar quem quisesse. Não haveria ordem, haveria caos, e no caos nada pode existir. O universo que conhecemos, portanto, é composto de leis, que estabelecem uma ordem, dentre as quais existem as leis espirituais.
As leis espirituais estão intimamente ligadas com a natureza de Deus, que não pode ser arbitrário consigo mesmo. Embora Deus seja onipotente, ele não age fora de sua própria natureza, ou seja, ele não muda. Deus possui uma natureza e seu modo de ser é conforme sua própria natureza. Um dos elementos mais notáveis da natureza de Deus é que ele é vida. Deus é o ser não criado, que existe sem ter origem, pois é a própria origem de todas as coisas. Em Deus, e por meio de Deus, todas as coisas vieram a existir. A existência da vida depende de Deus e fora de Deus não há vida. Ou seja, não existe possibilidade de haver vida fora da Vida, fora de sua matriz, que é Deus. Seria ilógico e arbitrário, para não dizer impossível.
Assim como há vida material, há vida espiritual. Deus nos fez a sua imagem e semelhança e colocou em nós a eternidade, sem que nós pudéssemos descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim (Eclesiastes 3.11). É a eternidade que nos diferencia de todos os outros seres vivos. O homem é dotado de responsabilidade moral, suas capacidades singulares apenas existem porque Deus fez o homem diferente dos demais seres, fez o homem com um elo perpétuo com seu criador. O homem não é fruto do acaso, pois caso fosse, seria, no máximo, como um animal qualquer, e não teria os atributos que possui. O homem não é o mero topo de uma evolução, alguém que se descobriu sozinho no universo, um ser vivo qualquer cuja única finalidade absoluta de existir é um dia morrer, e ser como se nunca tivesse sido. Sem Deus, a existência do homem seria sem sentido absoluto, a vida seria uma mera passagem, onde o homem resolve lhe dar algum sentido relativo, pois enquanto sentido absoluto sabe que seu destino final é a morte. De nada valeria o amor, o altruísmo e o sacrifício pelo próximo. Afinal, assim como a vida, tudo terminaria e seria como se nunca tivesse sido, logo, tudo seria em vão. Conceber o homem sem Deus não é apenas de um pessimismo fatalista, mas ilógico e incompatível com a natureza humana. Uma falha na leitura sobre a vida, um conceito ilógico sobre a mesma. Seria o mesmo que concebêssemos a existência da lei da gravidade onde pular de um edifício sem pára-quedas fosse o mesmo que pular de um degrau de escada. Isso, em absoluto, não faz sentido. São coisas mutuamente contraditórias. E nesse sentido, o Apóstolo Paulo avalia o homem que nega a Deus como indesculpável, visto que a própria natureza testifica sobre Deus (Romanos 1.20).
Deus colocou em nós a eternidade, mas apesar disso, a vida depende de Deus, pois apenas Nele é que há a concretização do elo (Deus e o homem) preexistente. Deus é como a árvore da vida, nela brotam ramos de vida, mas não se concebe que a vida possa brotar fora de sua respectiva árvore. A vida não pode brotar ao léu, de forma avulsa e independente. Como um ramo da árvore da vida, ela apenas pode brotar na árvore da vida. Desta forma, assim como há vida, cujo conceito impõe um termo final, que é a morte, há vida eterna, cujo conceito não impõe qualquer termo final, pois é eterna, que por sua vez impõe o conceito de morte eterna, que é a separação perpétua de Deus, pois Deus é a Vida em sentido absoluto.
A morte eterna só existe para aqueles que possuem em si a eternidade, sendo este o caso do ser humano. Em virtude da eternidade presente no homem, a existência da morte eterna é lógica e pressupõe, necessariamente, a existência da vida eterna, assim como a existência da vida pressupõe a existência da morte. E a morte eterna, a separação perpétua de Deus, é o que conhecemos como inferno. Ninguém pode afirmar como é, literalmente, o inferno, mas talvez tudo que se tenha descrito sobre o inferno seja uma alegoria de uma situação espiritual muito além da compreensão. Analisando logicamente, o inferno parece ser uma condição espiritual de vazio eterno, de sede insaciável (não à toa Cristo disse ser a água da vida), de desejos ardentes mundanos (o fogo) que nunca mais poderão ser saciados (visto que a vida acabou) e de sentimentos detestáveis que nunca acabam, visto que no inferno não há amor, não há vida, não há paz. O inferno é a condição espiritual de dor, morte e agonia. O inferno é a continuidade da consciência apartada de Deus.
Certamente Deus não criou o homem para a morte eterna, mas para a vida eterna. Quando Deus criou o homem para a vida eterna, por óbvio, pressupõe-se a existência também de uma morte eterna. A morte eterna ocorreu quando se acrescentou ao padrão que nos levaria a vida, o pecado. O pecado alterou o padrão existente e gerou um novo, qual seja: a morte. Se entendermos tal coisa, fica claro que Deus não poderia nos criar como somos de outra forma, senão da maneira que somos. Se não houvesse morte eterna, não haveria vida eterna, o que nos faria concluir que Deus não teria colocado em nós a eternidade e, por conseguinte, não seríamos a humanidade como conhecemos, mas seríamos, no máximo, como os animais irracionais, que nascem com o sentido absoluto de um dia morrerem, sem sequer se darem conta disso. Deus não é arbitrário no seu modo de ser, mas fez todas as coisas com grande coerência, que muitas vezes não podemos entender, mas podemos abstrair da realidade.
E o que gera a morte eterna? A morte eterna é gerada pelo pecado, que é nada mais nada menos do que qualquer coisa que nos afasta de Deus. Deus, possuindo uma natureza, não pode se aproximar do homem se este possui natureza diversa da sua. A natureza de Deus é perfeita, e a isso chamamos de santo. Deus é Santo porque é perfeito, e a perfeição não se une a imperfeição, pois o perfeito deixaria então de ser perfeito. E como Deus não pode mudar sua natureza, que é perfeita, o homem, ao pecar, afasta-se dele, e seu fim é a morte, não apenas física, mas espiritual.
O pecado, por sua vez, corrompeu a natureza do homem de tal forma que o fim do homem espiritual, assim como o carnal, passou a ser, necessariamente, a morte. O homem, a criação de Deus, concebido para a vida eterna, precipitou-se no pecado e na morte eterna, sendo que tais conseqüências são inerentes à natureza de Deus, que é perfeito e imutável. A morte eterna, como contrário da vida eterna, não pode ser extinta por Deus, pois tal coisa não estaria em conformidade com sua natureza, e, conforme visto, isso mudaria tudo o que conhecemos, ou seja, sequer existiríamos como raça humana. Se uma coisa que existe é de uma forma, é porque (provavelmente) não poderia existir de outra forma.
Contudo, Deus amou a humanidade de tal maneira que, sabendo da possibilidade de morte eterna para o homem, planejou o conserto antes mesmo da criação do homem, a única maneira de prover ao homem decaído a vida eterna, e essa maneira foi se fazendo homem, à semelhança do pecado (mas sem pecado).
A morte espiritual entrou no mundo por meio do primeiro homem, que representa toda a espécie humana. A morte passou a ser uma condição humana, um estado padrão que foi determinado como conseqüência pelo pecado. Logo, a conseqüência do pecado, irremediável, era a morte de tudo o que nasceu da carne, a morte do homem, a separação perpétua de Deus. Mas Deus, que não muda, não ignorou, em sua onipotência, a conseqüência do pecado, e se fazendo carne na pessoa de Jesus Cristo, veio cumprir a conseqüência do pecado, que era morrer. Cristo, portanto, nasceu para morrer na condição de homem. Mas por que o próprio Deus, que é perfeito, se fez homem e morreu, sendo que nunca pecou, e sendo que a morte para o homem foi uma conseqüência do pecado? Aqui está a grande maravilha do sacrifício de Cristo.
Pode Deus, fonte da Vida, vir a morrer? Encarnando, e apenas encarnado, Deus pôde morrer, mas na qualidade de Deus, a morte não pôde prevalecer contra o mesmo, visto que ele é a própria vida. Deus não pode ficar separado de si próprio. Por isso, a conseqüência de tal ato, singular no universo, foi que Cristo ressuscitasse, na qualidade de homem glorificado, ou seja, o homem que rompeu o obstáculo da morte e voltou à vida, de forma definitiva, visto que ele é a própria vida. Seu corpo humano agora é o da vida eterna, incorruptível.
Como tal ato pôde consertar nosso estado de morte? Assim como a morte entrou na humanidade por meio de um único homem, assim Deus venceu a morte, por meio de Cristo, humano, sendo que tal vitória sobre a morte vale para toda a humanidade.
De que maneira a morte de Cristo vale para todos os homens? Cristo, morrendo na condição de homem (pois o pecado decretara a morte da humanidade) cumpriu a conseqüência da lei do pecado, que decretou a morte ao homem. Dessa forma, se estivermos ligados a Cristo, que venceu a morte, nenhuma condenação haverá.
E de que maneira o homem, que ainda é um pecador, pode se ligar a Cristo? Isto se dá por meio do Espírito Santo de Deus, que por meio de Cristo, encarnou na forma humana e venceu a morte, conseqüência do pecado, e por isso pode hoje habitar no corpo de morte do homem, o convencendo do pecado e do juízo, e lhe imunizando dos efeitos da morte, visto que é o espírito daquele que venceu a morte (e por extensão, o pecado) na condição humana. A encarnação foi a forma que Deus encontrou, dentro de sua própria natureza, para unir o homem decaído junto dele, santo. Ou seja, todos os pecados passam a ser irrelevantes diante de Deus se o homem der ouvidos à voz do Espírito Santo de Deus, que testemunha acerca de Cristo, permitindo que este Espírito faça morada no homem. Cristo é o caminho para a vida, pois por meio dele, somos perdoados de todos os pecados, perdão este que nos une novamente com Deus. Toda conseqüência do pecado foi sofrida na pessoa de Cristo, que morreu por nós.
O perdão é o maior dos gestos de amor, mas só para quem o faz verdadeiramente com amor, ou seja, só vale para o arrependido. Quando um marido magoa a esposa, a mágoa gera um distanciamento entre o casal, que apenas é resolvido com amor, por meio do perdão, seja expresso em palavras, seja interior, demonstrado com uma atitude nobre e de carinho. O mero pedir perdão, sem amor, implica que não houve arrependimento. Com Deus é da mesma maneira, o pecado nos distancia de Deus, mas o perdão nos une novamente a ele. Sem arrependimento, o Espírito Santo de Deus não pode habitar no homem.
Para o pessimista fatalista, Deus, se admitido, o fez para ir para o inferno. Em sua tolice abissal, ele não compreende que foi feito para a vida eterna, e que mesmo sendo um pecador, tal fato não o condena, pois Cristo venceu a morte por todos os homens. Tudo o que ele precisa fazer é admitir ser pecador e permitir o Espírito Santo fazer morada em sua vida, lhe imunizando da morte que ainda compõe sua natureza e lhe ajudando a vencer as limitações que esta mesma natureza (doravante antiga natureza) decaída, ainda impõe.
Por isso é que, em Cristo, somos mais que vencedores (Romanos 8.37), pois mesmo nascidos da carne, que é mortal e corrupta, as conseqüências desta condição nada mais podem contra aqueles que já nasceram do espírito. Aqueles que nasceram do espírito nascem para a incorruptibilidade, mas quem nasceu apenas da carne não poderá ver o reino de Deus. A nova natureza do homem que nasceu do Espírito Santo de Deus prevalece sobre a antiga natureza. O nascido do espírito venceu a morte.


terça-feira, 27 de abril de 2010

O guia sem corpo




Não é necessário andar muito para ver, nos mais diversos momentos e lugares, nos mais variados contextos e situações, muitas vezes até de forma aleatória, ataques e mais ataques ao cristianismo, seja diretamente seja dissimuladamente. Nem mesmo as igrejas e os cristãos escaparam de encampar e endossar teorias, sistemas e ideologias anticristãs. Um misto de imprudência e ignorância.
Ignorância, por sinal, todos possuem. Se a alienação é fruto do estado de ignorância, concluímos, sem qualquer falácia, que podemos ser alienados em alguma coisa nesta vida. Quando alguém contrata um técnico em informática para consertar o computador, o faz por não saber consertar. Se o técnico contratado por você para o serviço for uma pessoa de má-fé, e notar o seu completo desconhecimento sobre o assunto, poderá ele te extorquir um bom dinheiro, cobrando por um serviço simples o que se paga por um serviço mais complexo.
O profeta Oséias bem registrara a exclamação do Altíssimo (Oséias 4:6) de que o povo se perdia por falta de conhecimento. O mesmo vale, sem dúvida alguma, para os nossos dias.
O conhecimento é libertador, mas parece uma virtude distante da maioria. Por essa razão a humanidade precisa de pastores, pessoas que possam conduzir as ovelhas em sua ignorância para o aprisco seguro. A missão de cuidar das gentes nunca foi a mais fácil, e aquele que está incumbido de tal tarefa, além da responsabilidade quase divina, está sujeito sempre a críticas e a perigos.
Mesmo o Rei que reinava absoluto não estava imune as críticas. As críticas, por sua vez, não precisam ser sequer ouvidas pelo Rei de imediato. Elas podem ecoar pelo reino, no anonimato, envenenando ocultamente o reinado. Elas podem surgir por motivos justos, mas a revolução geralmente eclode por motivos mesquinhos, propósitos de alguém que quer amealhar o reino para si e se tornar o novo soberano. O poder sobre os ignorantes é tentador. A revolução ocorre dissimulada em causas nobres, engendrando no rebanho (o povo) o ânimo para apoiar um pretenso libertador. O que ocorre é que o povo sai debaixo da tutela de um rei para debaixo da tutela de um tirano, de um tirano para outro tirano, de um ruim para outro pior.
Assim é a vida do povo que não se conduz e precisa ser conduzido. São, de fato, pessoas alienáveis, são o que somos. O ser humano é como uma criança, ele necessariamente é dependente de um guia. O problema é quando os guias são cegos. Disse Cristo Jesus (Mateus 15:14): “Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala.”
A ignorância torna o homem vulnerável à opressão de outrem, mas conhecer a verdade é meio de libertação. “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32). As palavras de Cristo, contudo, não nos permite concluir que o conhecimento da verdade faria do homem o seu próprio guia. Esta é uma deturpação terrível e perigosa da verdade pregada por Cristo. A verdade pregada por Cristo não se refere à auto-suficiência do homem (que depende de Deus e do próprio homem), mas em saber o homem reconhecer o seu verdadeiro guia neste mundo.
Palavras de Cristo em parábola (João 10.1-6): “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”.
Em outra passagem, Cristo afirma (Marcos 10:15): “Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.” Cristo deixa claro que, a suprema virtude, o reino dos céus, só é alcançável por alguém que está sujeito ao pai, à sua voz, à sua diretriz. Difere do adulto que é auto-suficiente.
É incessante a busca do homem por conhecimento (busca de um sentido de vida). Nesta busca, é notável a associação do conhecimento com a de uma emancipação, uma quebra do grilhão da alienação que sob o cetro da ignorância imperava. A busca por esta “libertação” ecoa por todos os seguimentos da sociedade “ad nauseam”, tornando-se ela mesma um propósito de vida. A tal libertação não se trata meramente da defesa de uma democracia, que libertara o homem da tirania dos monarcas, mas da criação de uma Nova Era, onde o povo é o seu próprio soberano. Esta foi, provavelmente, a mentira “anônima” mais alienadora de todas.
Não se trata, aqui, de se ser contra a democracia, uma notável conquista da humanidade. Trata-se de se definir a força alienadora. Se antes ela estava bem definida na figura de um guia bem definível (igreja, monarca, imperador, etc.), numa democracia, defini-la é muito mais complicado. Nesta Nova Era, uma nova força alienadora exsurge da “libertação” das gentes, governando sem limites e sem uma figura regente claramente identificável. É um guia sem corpo, que estupra a consciência do povo e o conduz a se "libertar" de seus “grilhões alienadores”. Protegendo-se no anonimato e na confusão que ele mesmo causa, imuniza-se a críticas, pois, aparentemente, não existe, reduzindo toda a resistência contra seus ideais a teorias de conspiração, fanatismo e loucura. A nova alienação não é uma opressão econômica ou política, é a opressão da consciência.
E quem não nota que o Cristianismo é o grande alvo deste guia sem corpo? A confusão disseminada por este guia sem corpo é tão grande que ele coloca as próprias ovelhas cristãs umas contras outras e contra suas próprias vidas. Utilizou-se das ovelhas cristãs do ocidente para desenvolver a ciência, que agora (já corrompida aos fins ideológicos) é dita ser incompatível (num ato de grande desonestidade científica) com a fé.
Utilizou-se do coração honesto e singelo das ovelhas cristãs para condenar o racismo e a escravidão para depois acusar o Cristianismo de ter incentivado e se beneficiado do mesmo racismo e escravidão que ajudou a condenar. Ora, o cristianismo é identificável pela igreja, um corpo bem definido, embora não seja uma instituição em si (sentido vulgar), como querem alguns. Como uma figura sabidamente existente, está sujeita a críticas, e é inegável que nem sempre os guias terrenos dos cristãos foram como o Supremo Mestre. Se muitos cristãos pecaram por ignorância em meio a um contexto social viciado (o que é perdoável), ainda alguns o fizeram por não serem do corpo, mas estranhos, alienígenas infiltrados que macularam a santa igreja (“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” – Mateus 7.21 – “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” – Mateus 7.23). Apesar disso, é papagaiado a esmo em colégios, universidades e em círculos “intelectuais” que o Cristianismo (a igreja) é culpado, enquanto as causas determinantes do racismo e da escravidão praticamente passam por despercebido. O Cristianismo é o guia a ser destruído, é o bode expiatório das maiores culpas do mundo ocidental. Uma vez "vencido" pelo guia sem corpo, a este caberá assumir a sua verdadeira forma, até então obscura. Pouco importa a contribuição que a moral judaico-cristã prestou a humanidade, importa apenas aquilo que se pode lhe imputar como culpa. E pior, cristãos tem papagaiado as mesmas inverdades, atacando a própria igreja que é caluniada na figura de espantalhos (esteriótipos falsos), causando intriga dentro do corpo.
Por ironia, o guia sem corpo utilizou as ovelhas cristãs para implantar a democracia moderna, que agora é instrumento legítimo contra o próprio Cristianismo, pois tudo numa democracia é criticável, mas se é o Cristianismo a exercer esse direito, logo é tido como manipulador, instrumento de alienação, vetor de fanatismo e intolerância, propagador da ignorância, quando não é a própria personificação da ignorância.
A inversão é tragicômica, pois o agredido é visto como o agressor e o agressor como a vítima. A estratégia do articulador guia sem corpo é fomentar na sociedade todo o tipo de conflito possível, destruindo a cultura homogênea (de base cristã) e incitando a proliferação de novos ingredientes, os mais diversos e contrastantes possíveis, criando um verdadeiro caldeirão, conhecido vulgarmente como cultura secular. É a denominada cultura da diversidade, que nada mais é que uma cultura de confusão, uma cultura de falta de identidade.
Conflito de sexos (homem VS mulher), conflito de sexualidade (heterossexuais VS homossexuais), conflito de raças (brancos VS negros; judeus VS palestinos); conflito de povos (América VS mundo árabe), conflito de sistemas (capitalismo VS comunismo), conflito de classes sociais (burgueses VS proletários; proprietários de terra VS sem terra), entre muitos outros. Por incrível que pareça, e por mais absurdo que pareça, o tal guia sem corpo tem conseguido inserir o Cristianismo como personagem antagonista em todos esses conflitos, e, por óbvio, massacrá-lo por todos os lados com as mais ignominiosas calúnias, sem oferecer proporcional direito de defesa, visto atuar no anonimato. O guia sem corpo se protege escondendo-se na obscuridade, atiçando na população a idéia de “um mal a ser combatido”, desviando a atenção de si e se tornando imune a quaisquer críticas. Quando uma voz contrária surge ameaçadoramente, mais e mais acusações mecanicamente assimiladas pelas consciências sobre fatos extemporâneos, desconexos, deturpados e por vezes até inventados, surgem como defesa da causa (do guia oculto), colocando em transe psíquico a sociedade, que fica alienada em seus “conflitos” sociais.
Eis um bom exemplo. É pregado por ONGs de ações afirmativas em prol da “raça” negra que o branco deve pagar pelos atos praticados por seus respectivos escravagistas entre os séculos XVI e XIX. Mas por que não se responsabiliza os escravagistas negros por crimes idênticos cometidos desde muitos séculos antes e até mesmo nos dias de hoje? Em que livro de nossas escolas o aluno fica ciente de que muçulmanos, a partir do século VIII, expandindo-se pela África e levando consigo princípios de organização político-militar, implantaram grandes impérios escravagistas? Por sinal, foi esta nefasta cultura bem sucedida já existente na África que possibilitou (ou facilitou) o comércio de escravos com os Europeus. Ademais, fato pouco difundido é que as invasões maometanas e a pirataria na Europa fizeram muitos brancos europeus escravos em países mulçumanos em tempos em que não existia escravidão na Europa, ou seja, negros escravizando brancos. Onde está a verdade libertadora? Por que não é ensinada nas escolas e universidades?
Para tais ONGs, os recentes sofrimentos vivenciados pelos negros da África na América justificariam a sustentação de que a raça branca é culpada. Se o racismo em si já é algo abominável, quanto mais ele se torna quando sua prática se consagra como direito monopolístico de uma raça em particular. Não se trata aqui de negar a existência do racismo contra negros, ou condenar uma maior conscientização, mas de ressaltar a insistência e a ênfase histérica que se dá à idéia de um conflito racial, onde o negro tem como algoz uma força alienadora e opressora, personificada na figura do homem branco vindo da Europa. Por homem branco europeu, leia-se (nas entrelinhas): cristão.
Segundo uma das ideologias pregadas pelo guia sem corpo, a América é fruto da tirania do homem branco cristão (necessário se faz para a ideologia anticristã identificá-lo como cristão) sobre os povos nativos americanos e sobre os negros. Atribuindo atos hediondos a "identidades cristãs", identificadas em qualquer elemento conveniente (na verdade espantalhos), o guia sem corpo cega a sociedade, impedindo-a de ver os grandes benefícios sociais que a fé cristã trouxe para todos os países onde se implantou com sucesso uma cultura e tradição Cristã.
Uma das mais notáveis facetas do guia sem corpo está no marxismo, especialmente o marxismo cultural. O marxismo cultural faz questão de não ser identificado com o marxismo clássico. O marxismo cultural (assim como o clássico) não apenas é uma ideologia anticristã, como também tenta ludibriar as pessoas fazendo passar idéias anticristãs como cristãs.
A difusão dos ideais do marxismo cultural foi um fator determinante para explosão na sociedade de movimentos diversos, como os de liberação da sexualidade, divórcio, entre outros, taxando a resistência a tais ideais de “moral burguesa” (codinome para moral cristã). Concebido na Escola de Frankfurt, sua proposta era difundir que "a sociedade capitalista" - isto é, ocidental (Cristã) - é uma sociedade repressora. O objetivo era acabar com a moral cristã, mas não confessavam suas intenções.
Os fracassos na implantação do marxismo clássico, na opinião de teóricos como Antonio Gramsci, explicavam-se pela “cultura ocidental”. A revolução teria dado certo na Rússia por ela não ser ocidental o suficiente. Ao invés de se descartar a teoria marxista por ser ela incompatível com a realidade, a mentalidade doentia de seus idealizadores enxergou na desconstrução da realidade o caminho para obtenção do sucesso. Para Gramsci, a “cultura ocidental” teria “alienado” os proletários a não desejarem a luta de classes, contrariando o desejo de Marx. Na fórmula encontrada pelo Marxismo Frankfurtiano, os jovens e os transviados serviriam como combustível para a destruição da “cultura ocidental” , possibilitando a nova revolução marxista.
A mentalidade de desconstrução da realidade contaminou não apenas a cultura, mas também o meio científico e acadêmico. Substituiu-se o “status quaestionis” pela doutrinação politicamente correta, que se imbuiu da missão de moldar a história a seus interesses, propagando seus ideais na sociedade como "verdades absolutas", embora sejam totalmente relativistas na busca da verdade. É como, num exemplo exagerado, recontar a estória de chapeuzinho vermelho sob a ótica do lobo, invertendo tragicamente os papéis. Não por coincidência, é a mesma mentalidade que, quando questionada, freqüentemente apela ao chavão da incerteza geral e da inexistência da verdade, pois, acomodada neste discurso, sequer se dá o trabalho de buscar a verdade verdadeiramente.
Em 1955, Herbert Marcuse, membro da Escola de Frankfurt, escreveu "Eros e Civilização", livro muito divulgado nas universidades e que se tornou a "bíblia" da revolução Hippie. Segundo seu discurso, a sociedade capitalista gera a guerra e a repressão sexual, daí a expressão: "faça amor, não faça guerra". Para encorajar os jovens a se liberarem, estes, que ainda possuíam em suas estruturas mentais escrúpulos cristãos, foram incitados a usarem drogas para conseguirem praticar perversões sexuais (“liberação sexual”). Com isso veio Woodstock e o protesto contra a guerra do Vietnam.
No Brasil, a doutrinação anticristã nas universidades ocorreu principalmente no período da Ditadura Militar. Os militares, que desconheciam a existência do marxismo cultural, tinham nas universidades o que o General Golbery do Couto e Silva chamava de “teoria da panela de pressão”. Para ele, toda panela de pressão deveria ter uma válvula de escape e foi assim que as universidades brasileiras se tornaram verdadeiros antros de ideologias anticristãs travestidas de autoridade científica, filosófica e moral, minando com confusão a mente de muitos cristãos desconhecedores da Verdade.
O marxismo cultural obteve o sucesso esperado por seus idealizadores. O conhecimento científico hoje se resume a ideais marxistas (materialistas), desconstrucionistas, e neopragmatistas, utilizados pela a elite “intelectual” como premissas indispensáveis da compreensão da realidade. O guia sem corpo encontrou no desejo incessante por conhecimento a chance de impingir na sociedade um falso conhecimento, confuso e contraditório, embora cômodo, pois dá ao indivíduo a ilusória sensação de libertação. Pior que a alienação de ser conduzido por um guia cego é ser guiado por um guia mal intencionado que não se vê, que não se identifica e que não faz questão de se identificar. Ele te faz acreditar que é livre, quando na realidade você é escravo dele. Faz sua última alienação pior que as anteriores. O guia sem corpo é como um demônio sem corpo: possui mentes e escraviza a consciência. Ele assumirá todas as formas possíveis antes de se manifestar em seu verdadeiro corpo.
Assim, a ilusão que a sociedade moderna tem é de que o indivíduo possui o meio, nele mesmo (auto-suficiência), de se "libertar" economicamente, politicamente, socialmente, sexualmente e espiritualmente. A fé cristã, sutilmente denominada de religião ou igreja, entre outros adjetivos, é encarada modernamente como uma desagradável muleta para o homem, que o reprime e o impede de caminhar livremente. Não por acaso a sociedade que se pretende ser pós-cristã talvez seja a mais frustrada, ansiosa e insatisfeita que já existiu.
Infelizmente muitos cristãos, preferindo ouvirem suas próprias concupiscências, fazem coro juntamente com inimigos declarados da fé cristã, acreditando estarem envolvidos num conflito justo, sem perceberem que estão conflitando, direta ou indiretamente, com a própria fé.
Cristo ensinou que fora da verdade não há vida, e que o homem depende tanto de Deus, para ser pleno em seu sentido de viver, quanto do próximo, que é ninguém mais ninguém menos do que qualquer pessoa. Quem diz amar ao pai e não ama seu próximo é mentiroso (1 João 4.20), e quem ama alguém ou a si mesmo mais do que a Cristo (Mateus 10.34), não está firmado na verdade. Disse Jesus: "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós; que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." (João 13.34-35)
E a verdade é: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” – Jesus Cristo (João 14.6)
Jesus é o Guia verdadeiro que conduz o homem pelo bom caminho, o caminho da vida. Ele não aliena ninguém, pois sua ovelha o conhece, e nele descansa e confia. O pior alienado é a ovelha que não conhece a voz do bom pastor, pois dará ouvido a mercenários.
E são muitos os mercenários, estando eles em todo lugar, até mesmo nas igrejas: “Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão. E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”. (Mateus 24.9-14) “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas." (2 Timóteo 4.3-4) "Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição." (2 Tessalonicenses 2:3)
Aquele que tem ouvidos diga: Maranatha!

--> Assistam as entrevistas no youtube com o ex-KGB Yuri Bezmenov (1983) e vejam como o Guia sem Corpo atua na sociedade.
http://www.youtube.com/watch?v=14M1TeMQ-lk