domingo, 20 de junho de 2010

Leis Espirituais e a Natureza de Deus




O universo é composto de leis que determinam como as coisas que conhecemos são. A lei é, na verdade, uma abstração de uma condição existente para que algo seja de uma determinada maneira. Abstraímos, por exemplo, que para termos o que conhecemos como água, deve-se haver determinada composição de hidrogênio com oxigênio. Não se adquire água com moléculas de carbono, por exemplo. A lei, por isso, é uma mera abstração de algo que foi observado como um padrão. Lei, como se quer definir neste texto, é nada mais que um padrão. As leis, por sua vez, determinam comportamentos no tempo e no espaço, de forma que, caso uma variável de um padrão determinado pela lei seja alterada, haverá alguma conseqüência sobre o comportamento predeterminado pela lei no tempo e no espaço. Um exemplo de fácil visualização é a flora e a fauna. Se uma floresta é devastada, houve uma mudança no padrão do ecossistema, e a conseqüência natural é que os animais que dependiam da floresta irão morrer, ou irá haver superpopulação de algumas espécies (mosquitos, por exemplo) devido o desaparecimento de outras (sapos e camaleões, por exemplo). Essa nova variável altera o padrão preexistente, instaurando outro padrão. Pela Lei da Gravidade, sabemos que há uma enorme diferença entre pular um degrau de escada e entre pular de um edifício sem pára-quedas. A existência de leis pressupõe respeito a seus ditames, caso se queira manter os padrões que elas determinam. Toda lei pressupõe um dever-ser, que é aferido na lógica de um padrão, cujo desrespeito impõe uma conseqüência, que estabelece um novo padrão, um novo equilíbrio. O indivíduo que ignora as leis da física e salta de um edifício sem pára-quedas, rumo ao chão firme, não pode esperar sair incólume. Sairá, certamente, muito ferido ou morto, porque o corpo não suporta tamanho impacto. Se não fosse dessa forma, os homens seriam como os astronautas no espaço: nada do que conhecemos existiria, não fosse uma lei da física que nos faz ter os pés firmes no chão, bem como impede, por conseqüência lógica, que um homem salte de um edifício sem pára-quedas rumo ao chão, e saia ileso. As próprias leis humanas seguem a mesma lógica. Ao homicida a lei impõe determinada pena, com o fim de não se distanciar do padrão de dever-ser que foi alterado pelo crime, estabelecendo novamente um equilíbrio próximo do anterior ao alterado. Isso ocorre porque concebemos como padrão que a vida humana deve ser preservada. Não houvesse uma lei determinando punição ao homicida, qualquer um poderia matar quem quisesse. Não haveria ordem, haveria caos, e no caos nada pode existir. O universo que conhecemos, portanto, é composto de leis, que estabelecem uma ordem, dentre as quais existem as leis espirituais.
As leis espirituais estão intimamente ligadas com a natureza de Deus, que não pode ser arbitrário consigo mesmo. Embora Deus seja onipotente, ele não age fora de sua própria natureza, ou seja, ele não muda. Deus possui uma natureza e seu modo de ser é conforme sua própria natureza. Um dos elementos mais notáveis da natureza de Deus é que ele é vida. Deus é o ser não criado, que existe sem ter origem, pois é a própria origem de todas as coisas. Em Deus, e por meio de Deus, todas as coisas vieram a existir. A existência da vida depende de Deus e fora de Deus não há vida. Ou seja, não existe possibilidade de haver vida fora da Vida, fora de sua matriz, que é Deus. Seria ilógico e arbitrário, para não dizer impossível.
Assim como há vida material, há vida espiritual. Deus nos fez a sua imagem e semelhança e colocou em nós a eternidade, sem que nós pudéssemos descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim (Eclesiastes 3.11). É a eternidade que nos diferencia de todos os outros seres vivos. O homem é dotado de responsabilidade moral, suas capacidades singulares apenas existem porque Deus fez o homem diferente dos demais seres, fez o homem com um elo perpétuo com seu criador. O homem não é fruto do acaso, pois caso fosse, seria, no máximo, como um animal qualquer, e não teria os atributos que possui. O homem não é o mero topo de uma evolução, alguém que se descobriu sozinho no universo, um ser vivo qualquer cuja única finalidade absoluta de existir é um dia morrer, e ser como se nunca tivesse sido. Sem Deus, a existência do homem seria sem sentido absoluto, a vida seria uma mera passagem, onde o homem resolve lhe dar algum sentido relativo, pois enquanto sentido absoluto sabe que seu destino final é a morte. De nada valeria o amor, o altruísmo e o sacrifício pelo próximo. Afinal, assim como a vida, tudo terminaria e seria como se nunca tivesse sido, logo, tudo seria em vão. Conceber o homem sem Deus não é apenas de um pessimismo fatalista, mas ilógico e incompatível com a natureza humana. Uma falha na leitura sobre a vida, um conceito ilógico sobre a mesma. Seria o mesmo que concebêssemos a existência da lei da gravidade onde pular de um edifício sem pára-quedas fosse o mesmo que pular de um degrau de escada. Isso, em absoluto, não faz sentido. São coisas mutuamente contraditórias. E nesse sentido, o Apóstolo Paulo avalia o homem que nega a Deus como indesculpável, visto que a própria natureza testifica sobre Deus (Romanos 1.20).
Deus colocou em nós a eternidade, mas apesar disso, a vida depende de Deus, pois apenas Nele é que há a concretização do elo (Deus e o homem) preexistente. Deus é como a árvore da vida, nela brotam ramos de vida, mas não se concebe que a vida possa brotar fora de sua respectiva árvore. A vida não pode brotar ao léu, de forma avulsa e independente. Como um ramo da árvore da vida, ela apenas pode brotar na árvore da vida. Desta forma, assim como há vida, cujo conceito impõe um termo final, que é a morte, há vida eterna, cujo conceito não impõe qualquer termo final, pois é eterna, que por sua vez impõe o conceito de morte eterna, que é a separação perpétua de Deus, pois Deus é a Vida em sentido absoluto.
A morte eterna só existe para aqueles que possuem em si a eternidade, sendo este o caso do ser humano. Em virtude da eternidade presente no homem, a existência da morte eterna é lógica e pressupõe, necessariamente, a existência da vida eterna, assim como a existência da vida pressupõe a existência da morte. E a morte eterna, a separação perpétua de Deus, é o que conhecemos como inferno. Ninguém pode afirmar como é, literalmente, o inferno, mas talvez tudo que se tenha descrito sobre o inferno seja uma alegoria de uma situação espiritual muito além da compreensão. Analisando logicamente, o inferno parece ser uma condição espiritual de vazio eterno, de sede insaciável (não à toa Cristo disse ser a água da vida), de desejos ardentes mundanos (o fogo) que nunca mais poderão ser saciados (visto que a vida acabou) e de sentimentos detestáveis que nunca acabam, visto que no inferno não há amor, não há vida, não há paz. O inferno é a condição espiritual de dor, morte e agonia. O inferno é a continuidade da consciência apartada de Deus.
Certamente Deus não criou o homem para a morte eterna, mas para a vida eterna. Quando Deus criou o homem para a vida eterna, por óbvio, pressupõe-se a existência também de uma morte eterna. A morte eterna ocorreu quando se acrescentou ao padrão que nos levaria a vida, o pecado. O pecado alterou o padrão existente e gerou um novo, qual seja: a morte. Se entendermos tal coisa, fica claro que Deus não poderia nos criar como somos de outra forma, senão da maneira que somos. Se não houvesse morte eterna, não haveria vida eterna, o que nos faria concluir que Deus não teria colocado em nós a eternidade e, por conseguinte, não seríamos a humanidade como conhecemos, mas seríamos, no máximo, como os animais irracionais, que nascem com o sentido absoluto de um dia morrerem, sem sequer se darem conta disso. Deus não é arbitrário no seu modo de ser, mas fez todas as coisas com grande coerência, que muitas vezes não podemos entender, mas podemos abstrair da realidade.
E o que gera a morte eterna? A morte eterna é gerada pelo pecado, que é nada mais nada menos do que qualquer coisa que nos afasta de Deus. Deus, possuindo uma natureza, não pode se aproximar do homem se este possui natureza diversa da sua. A natureza de Deus é perfeita, e a isso chamamos de santo. Deus é Santo porque é perfeito, e a perfeição não se une a imperfeição, pois o perfeito deixaria então de ser perfeito. E como Deus não pode mudar sua natureza, que é perfeita, o homem, ao pecar, afasta-se dele, e seu fim é a morte, não apenas física, mas espiritual.
O pecado, por sua vez, corrompeu a natureza do homem de tal forma que o fim do homem espiritual, assim como o carnal, passou a ser, necessariamente, a morte. O homem, a criação de Deus, concebido para a vida eterna, precipitou-se no pecado e na morte eterna, sendo que tais conseqüências são inerentes à natureza de Deus, que é perfeito e imutável. A morte eterna, como contrário da vida eterna, não pode ser extinta por Deus, pois tal coisa não estaria em conformidade com sua natureza, e, conforme visto, isso mudaria tudo o que conhecemos, ou seja, sequer existiríamos como raça humana. Se uma coisa que existe é de uma forma, é porque (provavelmente) não poderia existir de outra forma.
Contudo, Deus amou a humanidade de tal maneira que, sabendo da possibilidade de morte eterna para o homem, planejou o conserto antes mesmo da criação do homem, a única maneira de prover ao homem decaído a vida eterna, e essa maneira foi se fazendo homem, à semelhança do pecado (mas sem pecado).
A morte espiritual entrou no mundo por meio do primeiro homem, que representa toda a espécie humana. A morte passou a ser uma condição humana, um estado padrão que foi determinado como conseqüência pelo pecado. Logo, a conseqüência do pecado, irremediável, era a morte de tudo o que nasceu da carne, a morte do homem, a separação perpétua de Deus. Mas Deus, que não muda, não ignorou, em sua onipotência, a conseqüência do pecado, e se fazendo carne na pessoa de Jesus Cristo, veio cumprir a conseqüência do pecado, que era morrer. Cristo, portanto, nasceu para morrer na condição de homem. Mas por que o próprio Deus, que é perfeito, se fez homem e morreu, sendo que nunca pecou, e sendo que a morte para o homem foi uma conseqüência do pecado? Aqui está a grande maravilha do sacrifício de Cristo.
Pode Deus, fonte da Vida, vir a morrer? Encarnando, e apenas encarnado, Deus pôde morrer, mas na qualidade de Deus, a morte não pôde prevalecer contra o mesmo, visto que ele é a própria vida. Deus não pode ficar separado de si próprio. Por isso, a conseqüência de tal ato, singular no universo, foi que Cristo ressuscitasse, na qualidade de homem glorificado, ou seja, o homem que rompeu o obstáculo da morte e voltou à vida, de forma definitiva, visto que ele é a própria vida. Seu corpo humano agora é o da vida eterna, incorruptível.
Como tal ato pôde consertar nosso estado de morte? Assim como a morte entrou na humanidade por meio de um único homem, assim Deus venceu a morte, por meio de Cristo, humano, sendo que tal vitória sobre a morte vale para toda a humanidade.
De que maneira a morte de Cristo vale para todos os homens? Cristo, morrendo na condição de homem (pois o pecado decretara a morte da humanidade) cumpriu a conseqüência da lei do pecado, que decretou a morte ao homem. Dessa forma, se estivermos ligados a Cristo, que venceu a morte, nenhuma condenação haverá.
E de que maneira o homem, que ainda é um pecador, pode se ligar a Cristo? Isto se dá por meio do Espírito Santo de Deus, que por meio de Cristo, encarnou na forma humana e venceu a morte, conseqüência do pecado, e por isso pode hoje habitar no corpo de morte do homem, o convencendo do pecado e do juízo, e lhe imunizando dos efeitos da morte, visto que é o espírito daquele que venceu a morte (e por extensão, o pecado) na condição humana. A encarnação foi a forma que Deus encontrou, dentro de sua própria natureza, para unir o homem decaído junto dele, santo. Ou seja, todos os pecados passam a ser irrelevantes diante de Deus se o homem der ouvidos à voz do Espírito Santo de Deus, que testemunha acerca de Cristo, permitindo que este Espírito faça morada no homem. Cristo é o caminho para a vida, pois por meio dele, somos perdoados de todos os pecados, perdão este que nos une novamente com Deus. Toda conseqüência do pecado foi sofrida na pessoa de Cristo, que morreu por nós.
O perdão é o maior dos gestos de amor, mas só para quem o faz verdadeiramente com amor, ou seja, só vale para o arrependido. Quando um marido magoa a esposa, a mágoa gera um distanciamento entre o casal, que apenas é resolvido com amor, por meio do perdão, seja expresso em palavras, seja interior, demonstrado com uma atitude nobre e de carinho. O mero pedir perdão, sem amor, implica que não houve arrependimento. Com Deus é da mesma maneira, o pecado nos distancia de Deus, mas o perdão nos une novamente a ele. Sem arrependimento, o Espírito Santo de Deus não pode habitar no homem.
Para o pessimista fatalista, Deus, se admitido, o fez para ir para o inferno. Em sua tolice abissal, ele não compreende que foi feito para a vida eterna, e que mesmo sendo um pecador, tal fato não o condena, pois Cristo venceu a morte por todos os homens. Tudo o que ele precisa fazer é admitir ser pecador e permitir o Espírito Santo fazer morada em sua vida, lhe imunizando da morte que ainda compõe sua natureza e lhe ajudando a vencer as limitações que esta mesma natureza (doravante antiga natureza) decaída, ainda impõe.
Por isso é que, em Cristo, somos mais que vencedores (Romanos 8.37), pois mesmo nascidos da carne, que é mortal e corrupta, as conseqüências desta condição nada mais podem contra aqueles que já nasceram do espírito. Aqueles que nasceram do espírito nascem para a incorruptibilidade, mas quem nasceu apenas da carne não poderá ver o reino de Deus. A nova natureza do homem que nasceu do Espírito Santo de Deus prevalece sobre a antiga natureza. O nascido do espírito venceu a morte.