terça-feira, 27 de abril de 2010

O guia sem corpo




Não é necessário andar muito para ver, nos mais diversos momentos e lugares, nos mais variados contextos e situações, muitas vezes até de forma aleatória, ataques e mais ataques ao cristianismo, seja diretamente seja dissimuladamente. Nem mesmo as igrejas e os cristãos escaparam de encampar e endossar teorias, sistemas e ideologias anticristãs. Um misto de imprudência e ignorância.
Ignorância, por sinal, todos possuem. Se a alienação é fruto do estado de ignorância, concluímos, sem qualquer falácia, que podemos ser alienados em alguma coisa nesta vida. Quando alguém contrata um técnico em informática para consertar o computador, o faz por não saber consertar. Se o técnico contratado por você para o serviço for uma pessoa de má-fé, e notar o seu completo desconhecimento sobre o assunto, poderá ele te extorquir um bom dinheiro, cobrando por um serviço simples o que se paga por um serviço mais complexo.
O profeta Oséias bem registrara a exclamação do Altíssimo (Oséias 4:6) de que o povo se perdia por falta de conhecimento. O mesmo vale, sem dúvida alguma, para os nossos dias.
O conhecimento é libertador, mas parece uma virtude distante da maioria. Por essa razão a humanidade precisa de pastores, pessoas que possam conduzir as ovelhas em sua ignorância para o aprisco seguro. A missão de cuidar das gentes nunca foi a mais fácil, e aquele que está incumbido de tal tarefa, além da responsabilidade quase divina, está sujeito sempre a críticas e a perigos.
Mesmo o Rei que reinava absoluto não estava imune as críticas. As críticas, por sua vez, não precisam ser sequer ouvidas pelo Rei de imediato. Elas podem ecoar pelo reino, no anonimato, envenenando ocultamente o reinado. Elas podem surgir por motivos justos, mas a revolução geralmente eclode por motivos mesquinhos, propósitos de alguém que quer amealhar o reino para si e se tornar o novo soberano. O poder sobre os ignorantes é tentador. A revolução ocorre dissimulada em causas nobres, engendrando no rebanho (o povo) o ânimo para apoiar um pretenso libertador. O que ocorre é que o povo sai debaixo da tutela de um rei para debaixo da tutela de um tirano, de um tirano para outro tirano, de um ruim para outro pior.
Assim é a vida do povo que não se conduz e precisa ser conduzido. São, de fato, pessoas alienáveis, são o que somos. O ser humano é como uma criança, ele necessariamente é dependente de um guia. O problema é quando os guias são cegos. Disse Cristo Jesus (Mateus 15:14): “Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala.”
A ignorância torna o homem vulnerável à opressão de outrem, mas conhecer a verdade é meio de libertação. “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32). As palavras de Cristo, contudo, não nos permite concluir que o conhecimento da verdade faria do homem o seu próprio guia. Esta é uma deturpação terrível e perigosa da verdade pregada por Cristo. A verdade pregada por Cristo não se refere à auto-suficiência do homem (que depende de Deus e do próprio homem), mas em saber o homem reconhecer o seu verdadeiro guia neste mundo.
Palavras de Cristo em parábola (João 10.1-6): “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”.
Em outra passagem, Cristo afirma (Marcos 10:15): “Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.” Cristo deixa claro que, a suprema virtude, o reino dos céus, só é alcançável por alguém que está sujeito ao pai, à sua voz, à sua diretriz. Difere do adulto que é auto-suficiente.
É incessante a busca do homem por conhecimento (busca de um sentido de vida). Nesta busca, é notável a associação do conhecimento com a de uma emancipação, uma quebra do grilhão da alienação que sob o cetro da ignorância imperava. A busca por esta “libertação” ecoa por todos os seguimentos da sociedade “ad nauseam”, tornando-se ela mesma um propósito de vida. A tal libertação não se trata meramente da defesa de uma democracia, que libertara o homem da tirania dos monarcas, mas da criação de uma Nova Era, onde o povo é o seu próprio soberano. Esta foi, provavelmente, a mentira “anônima” mais alienadora de todas.
Não se trata, aqui, de se ser contra a democracia, uma notável conquista da humanidade. Trata-se de se definir a força alienadora. Se antes ela estava bem definida na figura de um guia bem definível (igreja, monarca, imperador, etc.), numa democracia, defini-la é muito mais complicado. Nesta Nova Era, uma nova força alienadora exsurge da “libertação” das gentes, governando sem limites e sem uma figura regente claramente identificável. É um guia sem corpo, que estupra a consciência do povo e o conduz a se "libertar" de seus “grilhões alienadores”. Protegendo-se no anonimato e na confusão que ele mesmo causa, imuniza-se a críticas, pois, aparentemente, não existe, reduzindo toda a resistência contra seus ideais a teorias de conspiração, fanatismo e loucura. A nova alienação não é uma opressão econômica ou política, é a opressão da consciência.
E quem não nota que o Cristianismo é o grande alvo deste guia sem corpo? A confusão disseminada por este guia sem corpo é tão grande que ele coloca as próprias ovelhas cristãs umas contras outras e contra suas próprias vidas. Utilizou-se das ovelhas cristãs do ocidente para desenvolver a ciência, que agora (já corrompida aos fins ideológicos) é dita ser incompatível (num ato de grande desonestidade científica) com a fé.
Utilizou-se do coração honesto e singelo das ovelhas cristãs para condenar o racismo e a escravidão para depois acusar o Cristianismo de ter incentivado e se beneficiado do mesmo racismo e escravidão que ajudou a condenar. Ora, o cristianismo é identificável pela igreja, um corpo bem definido, embora não seja uma instituição em si (sentido vulgar), como querem alguns. Como uma figura sabidamente existente, está sujeita a críticas, e é inegável que nem sempre os guias terrenos dos cristãos foram como o Supremo Mestre. Se muitos cristãos pecaram por ignorância em meio a um contexto social viciado (o que é perdoável), ainda alguns o fizeram por não serem do corpo, mas estranhos, alienígenas infiltrados que macularam a santa igreja (“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” – Mateus 7.21 – “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” – Mateus 7.23). Apesar disso, é papagaiado a esmo em colégios, universidades e em círculos “intelectuais” que o Cristianismo (a igreja) é culpado, enquanto as causas determinantes do racismo e da escravidão praticamente passam por despercebido. O Cristianismo é o guia a ser destruído, é o bode expiatório das maiores culpas do mundo ocidental. Uma vez "vencido" pelo guia sem corpo, a este caberá assumir a sua verdadeira forma, até então obscura. Pouco importa a contribuição que a moral judaico-cristã prestou a humanidade, importa apenas aquilo que se pode lhe imputar como culpa. E pior, cristãos tem papagaiado as mesmas inverdades, atacando a própria igreja que é caluniada na figura de espantalhos (esteriótipos falsos), causando intriga dentro do corpo.
Por ironia, o guia sem corpo utilizou as ovelhas cristãs para implantar a democracia moderna, que agora é instrumento legítimo contra o próprio Cristianismo, pois tudo numa democracia é criticável, mas se é o Cristianismo a exercer esse direito, logo é tido como manipulador, instrumento de alienação, vetor de fanatismo e intolerância, propagador da ignorância, quando não é a própria personificação da ignorância.
A inversão é tragicômica, pois o agredido é visto como o agressor e o agressor como a vítima. A estratégia do articulador guia sem corpo é fomentar na sociedade todo o tipo de conflito possível, destruindo a cultura homogênea (de base cristã) e incitando a proliferação de novos ingredientes, os mais diversos e contrastantes possíveis, criando um verdadeiro caldeirão, conhecido vulgarmente como cultura secular. É a denominada cultura da diversidade, que nada mais é que uma cultura de confusão, uma cultura de falta de identidade.
Conflito de sexos (homem VS mulher), conflito de sexualidade (heterossexuais VS homossexuais), conflito de raças (brancos VS negros; judeus VS palestinos); conflito de povos (América VS mundo árabe), conflito de sistemas (capitalismo VS comunismo), conflito de classes sociais (burgueses VS proletários; proprietários de terra VS sem terra), entre muitos outros. Por incrível que pareça, e por mais absurdo que pareça, o tal guia sem corpo tem conseguido inserir o Cristianismo como personagem antagonista em todos esses conflitos, e, por óbvio, massacrá-lo por todos os lados com as mais ignominiosas calúnias, sem oferecer proporcional direito de defesa, visto atuar no anonimato. O guia sem corpo se protege escondendo-se na obscuridade, atiçando na população a idéia de “um mal a ser combatido”, desviando a atenção de si e se tornando imune a quaisquer críticas. Quando uma voz contrária surge ameaçadoramente, mais e mais acusações mecanicamente assimiladas pelas consciências sobre fatos extemporâneos, desconexos, deturpados e por vezes até inventados, surgem como defesa da causa (do guia oculto), colocando em transe psíquico a sociedade, que fica alienada em seus “conflitos” sociais.
Eis um bom exemplo. É pregado por ONGs de ações afirmativas em prol da “raça” negra que o branco deve pagar pelos atos praticados por seus respectivos escravagistas entre os séculos XVI e XIX. Mas por que não se responsabiliza os escravagistas negros por crimes idênticos cometidos desde muitos séculos antes e até mesmo nos dias de hoje? Em que livro de nossas escolas o aluno fica ciente de que muçulmanos, a partir do século VIII, expandindo-se pela África e levando consigo princípios de organização político-militar, implantaram grandes impérios escravagistas? Por sinal, foi esta nefasta cultura bem sucedida já existente na África que possibilitou (ou facilitou) o comércio de escravos com os Europeus. Ademais, fato pouco difundido é que as invasões maometanas e a pirataria na Europa fizeram muitos brancos europeus escravos em países mulçumanos em tempos em que não existia escravidão na Europa, ou seja, negros escravizando brancos. Onde está a verdade libertadora? Por que não é ensinada nas escolas e universidades?
Para tais ONGs, os recentes sofrimentos vivenciados pelos negros da África na América justificariam a sustentação de que a raça branca é culpada. Se o racismo em si já é algo abominável, quanto mais ele se torna quando sua prática se consagra como direito monopolístico de uma raça em particular. Não se trata aqui de negar a existência do racismo contra negros, ou condenar uma maior conscientização, mas de ressaltar a insistência e a ênfase histérica que se dá à idéia de um conflito racial, onde o negro tem como algoz uma força alienadora e opressora, personificada na figura do homem branco vindo da Europa. Por homem branco europeu, leia-se (nas entrelinhas): cristão.
Segundo uma das ideologias pregadas pelo guia sem corpo, a América é fruto da tirania do homem branco cristão (necessário se faz para a ideologia anticristã identificá-lo como cristão) sobre os povos nativos americanos e sobre os negros. Atribuindo atos hediondos a "identidades cristãs", identificadas em qualquer elemento conveniente (na verdade espantalhos), o guia sem corpo cega a sociedade, impedindo-a de ver os grandes benefícios sociais que a fé cristã trouxe para todos os países onde se implantou com sucesso uma cultura e tradição Cristã.
Uma das mais notáveis facetas do guia sem corpo está no marxismo, especialmente o marxismo cultural. O marxismo cultural faz questão de não ser identificado com o marxismo clássico. O marxismo cultural (assim como o clássico) não apenas é uma ideologia anticristã, como também tenta ludibriar as pessoas fazendo passar idéias anticristãs como cristãs.
A difusão dos ideais do marxismo cultural foi um fator determinante para explosão na sociedade de movimentos diversos, como os de liberação da sexualidade, divórcio, entre outros, taxando a resistência a tais ideais de “moral burguesa” (codinome para moral cristã). Concebido na Escola de Frankfurt, sua proposta era difundir que "a sociedade capitalista" - isto é, ocidental (Cristã) - é uma sociedade repressora. O objetivo era acabar com a moral cristã, mas não confessavam suas intenções.
Os fracassos na implantação do marxismo clássico, na opinião de teóricos como Antonio Gramsci, explicavam-se pela “cultura ocidental”. A revolução teria dado certo na Rússia por ela não ser ocidental o suficiente. Ao invés de se descartar a teoria marxista por ser ela incompatível com a realidade, a mentalidade doentia de seus idealizadores enxergou na desconstrução da realidade o caminho para obtenção do sucesso. Para Gramsci, a “cultura ocidental” teria “alienado” os proletários a não desejarem a luta de classes, contrariando o desejo de Marx. Na fórmula encontrada pelo Marxismo Frankfurtiano, os jovens e os transviados serviriam como combustível para a destruição da “cultura ocidental” , possibilitando a nova revolução marxista.
A mentalidade de desconstrução da realidade contaminou não apenas a cultura, mas também o meio científico e acadêmico. Substituiu-se o “status quaestionis” pela doutrinação politicamente correta, que se imbuiu da missão de moldar a história a seus interesses, propagando seus ideais na sociedade como "verdades absolutas", embora sejam totalmente relativistas na busca da verdade. É como, num exemplo exagerado, recontar a estória de chapeuzinho vermelho sob a ótica do lobo, invertendo tragicamente os papéis. Não por coincidência, é a mesma mentalidade que, quando questionada, freqüentemente apela ao chavão da incerteza geral e da inexistência da verdade, pois, acomodada neste discurso, sequer se dá o trabalho de buscar a verdade verdadeiramente.
Em 1955, Herbert Marcuse, membro da Escola de Frankfurt, escreveu "Eros e Civilização", livro muito divulgado nas universidades e que se tornou a "bíblia" da revolução Hippie. Segundo seu discurso, a sociedade capitalista gera a guerra e a repressão sexual, daí a expressão: "faça amor, não faça guerra". Para encorajar os jovens a se liberarem, estes, que ainda possuíam em suas estruturas mentais escrúpulos cristãos, foram incitados a usarem drogas para conseguirem praticar perversões sexuais (“liberação sexual”). Com isso veio Woodstock e o protesto contra a guerra do Vietnam.
No Brasil, a doutrinação anticristã nas universidades ocorreu principalmente no período da Ditadura Militar. Os militares, que desconheciam a existência do marxismo cultural, tinham nas universidades o que o General Golbery do Couto e Silva chamava de “teoria da panela de pressão”. Para ele, toda panela de pressão deveria ter uma válvula de escape e foi assim que as universidades brasileiras se tornaram verdadeiros antros de ideologias anticristãs travestidas de autoridade científica, filosófica e moral, minando com confusão a mente de muitos cristãos desconhecedores da Verdade.
O marxismo cultural obteve o sucesso esperado por seus idealizadores. O conhecimento científico hoje se resume a ideais marxistas (materialistas), desconstrucionistas, e neopragmatistas, utilizados pela a elite “intelectual” como premissas indispensáveis da compreensão da realidade. O guia sem corpo encontrou no desejo incessante por conhecimento a chance de impingir na sociedade um falso conhecimento, confuso e contraditório, embora cômodo, pois dá ao indivíduo a ilusória sensação de libertação. Pior que a alienação de ser conduzido por um guia cego é ser guiado por um guia mal intencionado que não se vê, que não se identifica e que não faz questão de se identificar. Ele te faz acreditar que é livre, quando na realidade você é escravo dele. Faz sua última alienação pior que as anteriores. O guia sem corpo é como um demônio sem corpo: possui mentes e escraviza a consciência. Ele assumirá todas as formas possíveis antes de se manifestar em seu verdadeiro corpo.
Assim, a ilusão que a sociedade moderna tem é de que o indivíduo possui o meio, nele mesmo (auto-suficiência), de se "libertar" economicamente, politicamente, socialmente, sexualmente e espiritualmente. A fé cristã, sutilmente denominada de religião ou igreja, entre outros adjetivos, é encarada modernamente como uma desagradável muleta para o homem, que o reprime e o impede de caminhar livremente. Não por acaso a sociedade que se pretende ser pós-cristã talvez seja a mais frustrada, ansiosa e insatisfeita que já existiu.
Infelizmente muitos cristãos, preferindo ouvirem suas próprias concupiscências, fazem coro juntamente com inimigos declarados da fé cristã, acreditando estarem envolvidos num conflito justo, sem perceberem que estão conflitando, direta ou indiretamente, com a própria fé.
Cristo ensinou que fora da verdade não há vida, e que o homem depende tanto de Deus, para ser pleno em seu sentido de viver, quanto do próximo, que é ninguém mais ninguém menos do que qualquer pessoa. Quem diz amar ao pai e não ama seu próximo é mentiroso (1 João 4.20), e quem ama alguém ou a si mesmo mais do que a Cristo (Mateus 10.34), não está firmado na verdade. Disse Jesus: "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós; que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." (João 13.34-35)
E a verdade é: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” – Jesus Cristo (João 14.6)
Jesus é o Guia verdadeiro que conduz o homem pelo bom caminho, o caminho da vida. Ele não aliena ninguém, pois sua ovelha o conhece, e nele descansa e confia. O pior alienado é a ovelha que não conhece a voz do bom pastor, pois dará ouvido a mercenários.
E são muitos os mercenários, estando eles em todo lugar, até mesmo nas igrejas: “Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão. E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”. (Mateus 24.9-14) “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas." (2 Timóteo 4.3-4) "Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição." (2 Tessalonicenses 2:3)
Aquele que tem ouvidos diga: Maranatha!

--> Assistam as entrevistas no youtube com o ex-KGB Yuri Bezmenov (1983) e vejam como o Guia sem Corpo atua na sociedade.
http://www.youtube.com/watch?v=14M1TeMQ-lk

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Verdadeira Vontade de Deus.



Neste texto resolvi comentar um assunto espinhoso dentro dos escritos bíblicos. Será o bem absoluto, a boa e perfeita vontade de Deus, impraticável em determinadas situações ou contextos?
Sabemos que o homem é pecador, não há exceção. Digo sem exceção porque alguém poderia vir dizer: hoje sou uma nova criatura, não peco mais! Ilusão! Mesmo a nova criatura peca, a diferença é que a nova criatura não é mais escrava do pecado, ela está alforriada, não incidindo mais sobre ela o julgo de morte. Apesar de viver e receber a dádiva de uma nova vida, o indivíduo ainda está sujeito a tropeçar e a caminhar em caminhos errados. Em Eclesiastes 7.19 diz: “Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e não peque.” O conceito de justo do professor em Eclesiastes é o absoluto, e não o relativo, que costumamos aplicar.
Mas a questão ainda não se resume a isto. Poderia o homem evitar o próprio pecado causado por culpa de terceiros (sociedade, realidade prática ou exigências da vida)? A resposta, para mim, é negativa. Pior, mesmo o homem não podendo evitar o próprio pecado causado por fatores alheios a sua própria vontade, isso não o isentaria do julgo do pecado. Como humanidade, somos pecadores porque somos parte de Adão, o primeiro homem, alma vivente (1 Coríntios 15.45). Precisamente, não herdamos os pecados de Adão, mas compartilhamos do mesmo mal, como integrantes de um todo (a humanidade). Assim como compartilhamos o julgo da morte em Adão, compartilhamos a vitória sobre a morte em Jesus Cristo. Adão responderá por suas próprias culpas e nós, pelas nossas. Não há como se ter por escusado.
O assunto se torna delicado porque se confunde com a idéia de uma herança maldita, uma herança do pecado. A Bíblia em diversas passagens rechaça essa possibilidade, como na que os discípulos de Jesus perguntam para o mestre sobre a razão do cego ser cego (João 9.1-3). Pecado dos pais, do próprio cego? Jesus diz: nem um nem outro, mas para que se manifestasse sobre ele o poder de Deus. Assim, o assunto merece uma melhor análise, rechaçando a idéia de maldição hereditária, mas sem ignorar os inegáveis efeitos coletivos que o pecado possui sobre indivíduos que nada fizeram.
Vê-se que a sociedade é um organismo, um corpo. Se um membro está doente, todo o corpo sofre. Com o pecado também é assim, o pai peca e certas conseqüências deste pecado são sofridas pelos filhos e pela esposa. Não se trata, nesse caso, de uma herança de pecado, mas de um efeito solidário deste, um efeito que abrange necessariamente mais de uma pessoa. Assim também ocorre com um país, que sofrerá com as conseqüências da decisão errada de seu líder, independentemente do povo ter compactuado com ela.
Não há herança de pecados e nem mesmo de maldição. “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este (Ezequiel 18.20)”. Contudo, entendo poder haver solidariedade com pecados, solidariedade com maldições. Qual a diferença? A herança pressupõe uma sucessão, sai o sucedido e entra o sucessor. Como já dito, a Bíblia rechaça completamente essa possibilidade, o filho não herda o pecado do pai, se o pai não padeceu todos os efeitos possíveis do pecado, estes não serão transmitidos para o filho. Mesmo hoje, ninguém herda uma pena de prisão de alguém que não veio a pagar completamente por ela. Se um pai foi condenado a 30 anos de cadeia e não veio a cumprir por um motivo qualquer, não será o filho que pagará. A herança pressupõe, necessariamente, uma sucessão, a assunção da dívida do sucedido pelo sucessor. E nesse sentido, não há assunção de débitos espirituais de nossos antepassados. Nós só responderemos por nossas próprias culpas. Mas enquanto coletividade, nossos pecados podem fazer o mal não apenas para nós mesmos, mas para todos que de alguma forma estão interligados.
Solidariedade significa responsabilidades iguais, indivisíveis, pois vistas como um todo e nunca individualmente, e não cogita culpabilidade. É como o corpo humano, se um membro está doente, diz-se que o indivíduo está doente, pois os membros são partes integrantes do todo e não são vistos separadamente dele. Não faz sentido se pensar em um fígado ou em um coração sem um corpo.
Quando há responsabilidade solidária, pouco importa no corpo quem é o causador do efeito, pois todos são solidários. Num país, se o presidente é corrupto e toma decisões erradas, não faz sentido dizer que só o presidente sofrerá as conseqüências de seus atos. Como líder de uma nação, suas decisões, boas ou más, repercutirão na sociedade como um todo. Se forem más, a sociedade (vista como um todo) sofrerá seus efeitos, independentemente de culpa.
Contudo, há uma extensão dessa solidariedade a proporções pouco analisadas. A questão é a impraticabilidade do bem absoluto em meio a uma sociedade doente. Seria o bem absoluto, a vontade de Deus perfeita, impraticável em certas situações? Aqui reside a problemática do assunto.
Imaginemos uma situação em que um membro do corpo está doente, gerando sofrimento e perigo para o corpo como um todo. E para evitar que esta situação se prolongue indefinidamente ou se agrave, relativiza-se a boa e perfeita vontade de Deus. Significa dizer que, para cessar o sofrimento ou o efeito mortal que o membro doente está gerando, uma atitude extrema e dolorosa deverá ser tomada. Comparo com a perna que precisa ser amputada. Amputar é tirar do todo parte que não é vista fora dele, uma parte necessária, mas que diante das circunstâncias, precisa ser cortada para não comprometer a saúde do todo. Retirar a perna do todo não é algo que possamos chamar de ideal, de perfeito, mas é o “mal necessário”. Por vezes reparei que a vida espiritual nos coloca em situações parecidas.
Um desses casos, onde entendo que houve uma relativização do cumprimento da boa e perfeita vontade de Deus, deu-se com o divórcio. Nos tempos da lei mosaica, o instituto do divórcio foi regulado (Deuteronômio 24.1-4), sendo naquela época admissível. Contudo, mais tarde Cristo explica que o divórcio nunca foi da vontade de Deus, apesar de sua permissão está contida na lei outorgada pelo próprio Deus a Moisés. Cristo então explica que o divórcio foi admitido porque os homens eram duros de coração (Mateus 19.8). Penso que Cristo quis dizer que se não se admitisse o divórcio, outras conseqüências nefastas poderiam recair sobre o homem, piores do que as decorrentes do próprio divórcio, que nunca foi da vontade de Deus. Também revela certo nível de impraticabilidade da vontade de Deus. Se fosse o homem capaz de cumprir de forma plena a sua vontade, não teria o próprio Deus relativizado o seu cumprimento pelo homem. Vê-se que não foi o valor divino que foi relativizado, pois que é absoluto e imutável, mas o seu cumprimento pelo homem. Cristo então declara ao homem qual era a boa e perfeita vontade de Deus sobre o assunto, mas a tolerância de Deus na época da lei de Moisés fez o homem banalizar o casamento e o divórcio.
Outro caso onde entendo que houve relativização do cumprimento da verdadeira vontade de Deus estava nas posturas de guerra que Israel tinha perante seus inimigos. Em guerras, não eram poupados animais, mulheres, crianças ou idosos, sendo todos aniquilados a fio da espada. Tais determinações vinham do próprio Deus, contrastando com a imagem que realmente conhecemos dele: um Deus bondoso, misericordioso e pacífico. Ora, conhecemos que Deus abomina homicídios (Êxodo 20:13 - Não matarás), como Deus então admitia e até determinava a sua prática nas guerras? O cristão deve tomar cuidado para não se embebedar em questões puramente retóricas, que por sua complexidade, podem levá-lo a cegueira espiritual, desviando o homem da busca pelo conhecimento genuíno (que exige humildade), por uma busca desenfreada por respostas satisfatórias ao ego, que por sua vez, afastam-se da verdade.
O sábio professor, em Eclesiastes, dizia: “não sejas demasiado justo, nem exageradamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiado perverso, nem sejas louco; por que morrerias fora do teu tempo?” (Eclesiastes 7.17-18)
Não devemos confiar na nossa própria justiça e nem mesmo sermos tolos ao ponto de nos iludirmos de que somos capazes de possuir a justiça perfeita, bem como a plenitude do conhecimento. Ambos os extremos são perigosos para o homem, porque um leva o homem a arrogância e o outro leva o homem à decadência.
Quando Hitler liderou a Alemanha contra vários países, será que muitos inocentes alemães não sofreram conseqüências danosas? Quando a Alemanha se comprometeu com a guerra, comprometeu todos os seus cidadãos: soldados, mulheres, crianças e idosos. Seria a morte de crianças alemãs o ideal? Certamente não. Contudo, é possível haver guerra sem haver tais atrocidades? Uma guerra em si já é uma atrocidade. Se apenas os vilões (os culpados) resolvessem se digladiar e morressem, ainda assim haveria atrocidade contra o gênero humano. Se em tempos modernos ocorre isso, por que nos tempos antigos essa realidade seria diferente? A Bíblia não é um livro de ficção, e nunca se propôs a ser um. Apesar de nela encontramos parábolas, alegorias e simbologias, ela trata da vida real, do homem real (e imperfeito) e sua relação com Deus (perfeito).
Se a Bíblia fosse um livro de uma realidade idealizada, uma realidade fictícia, nela não haveria guerras. Havendo guerras, ainda seria um livro de ficção se nela os filhos dos soldados mortos crescessem sem ânimo de vingança contra os algozes de seus pais, estabelecendo ainda com tais algozes alianças de paz perpétua. Seria ainda ficção se as crianças que perderam os pais fossem criadas e recebessem cuidados dos algozes de seus pais, tal como o que estes dão aos próprios filhos, e se as crianças órfãs amassem seus novos pais, algozes de seus pais biológicos, como estes. Isso pode até soar bonito, mas não corresponde à realidade do ser humano. Se comparássemos a vida a um vídeo game, seria como o jogador que sem nenhuma experiência de jogo e possuindo um código de invencibilidade, passasse por todos os obstáculos sem se preocupar com nada. Para jogadores de verdade, isso também não é um jogo de verdade. Prefiro comparar a vida a um concerto musical, onde Deus é o maestro, e a humanidade, os músicos. Quem executa propriamente a sinfonia não é o maestro, mas ele a tem sob seu controle, sem privar o desempenho e a qualidade individual dos músicos, permitindo momentos de destaque para um ou outro instrumento e, sem dúvidas, sem exigir de seus músicos aquilo que eles não são capazes de executar. Se ele exigisse, o próprio concerto musical não seria possível. Não haveria música, haveria um pandemônio.
Para o “piedoso” indivíduo que vive numa democracia (um sistema que se desenvolveu modernamente em países de tradição judaico-cristã) é fácil, de seu confortável sofá, bater no peito e taxar Jeová de mau. Mas esse mesmo indivíduo não viveu e não conheceu a realidade de uma guerra. Se tivesse conhecido, clamaria por justiça divina, pedindo a intervenção de Deus como um verdadeiro general disposto a livrá-lo do perigo e do sofrimento, e Deus não o ouviria, e este mesmo indivíduo terminaria por negar a Deus, como igualmente faz em situação completamente oposta. É o que eu chamaria de cinismo espiritual.
Como o povo de Israel perduraria na face da terra até os dias de hoje se no ato de guerrear, ao invés de aniquilar completamente o inimigo (nação como um todo), mantivesse a semente dele ainda viva, criando a possibilidade da semente do inimigo vir a crescer e posteriormente ser causa de uma nova guerra? Como Israel chegaria até os dias presentes se Deus exigisse de seu povo coisas impossíveis de serem realizadas por todos num contexto social interdependente, repleto de relações de causa e efeito? Como Israel compreenderia as determinações de Deus para andar retamente, para guerrear, entre outras, se Deus não utilizasse linguagem compreensível, psicologicamente adequada à realidade, aos medos e aos escrúpulos daquele povo? Os líderes de Israel, contudo, sabiam diferenciar sem maiores problemas o mandamento de Deus que determinava o “não matarás” e as determinações para as guerras, claras exceções em um típico regime de exceção. Ninguém naquela época se fazia de sonso, desentendido ou confuso com as leis. O curioso (e contraditório) é que geralmente os mesmos “piedosos” que condenam tais atitudes no Antigo Testamento são os mesmos que hoje defendem o aborto como recurso de dignidade humana.
Vê-se claramente que embora o valor divino proíba o homicídio, o seu cumprimento foi relativizado pela realidade da época. Em certas situações, o próprio Deus, em sua soberania e sabedoria, impôs ao homem andar por caminhos tortuosos, distantes de sua perfeita e boa vontade, por ser ela impraticável e impossível ao homem naquele determinado contexto. Como seria bom que uma pessoa com câncer pudesse simplesmente curar o órgão afetado, ou ainda amputá-lo e logo em seguida surgisse outro, como uma planta que brota, sem nenhum prejuízo físico, orgânico ou estético. O pecado é o contexto que a humanidade vive, seja o judeu ou o gentio, seja o cristão ou o não cristão. É por isso que a salvação é pela graça, nunca por obras (Efésios 2:8-9). Se fosse por obras (mérito próprio), absolutamente ninguém seria salvo, pois praticar o bem absoluto é impossível ao homem indivíduo, e ainda mais impossível, em proposital pleonasmo hiperbólico, para o homem em conjunto – família, nação, congregação, etc. – visto que numa coletividade, um depende do outro.
Não é inadequado diferenciar tempo da lei e tempo da graça quando se compreende bem o que foram tais tempos. A lei surgiu para preparação do Messias, do povo de onde ele viria e para a revelação da perfeita e boa vontade de Deus (fazendo-nos concluir que a humanidade ainda não estava pronta). Compartilhando do entendimento do escritor C.S.Lewis, a revelação divina, antes de Cristo, estava difusa na humanidade, as religiões eram imperfeitas e incompletas. O Messias viria de um povo, e este povo eleito e preparado foi o judeu, por amor de Deus a Abraão. A religião judaica, diferente das demais, era perfeita, mas ainda incompleta, pois não manifestava a perfeita e boa vontade de Deus claramente. A lei era boa e a verdade estava na lei, mas ela velava a verdadeira vontade de Deus (2 Coríntios 3.15), manifestada apenas posteriormente em Jesus Cristo, que preencheu a “lacuna” existente. Na era cristã, ou tempo da graça, percebemos um nítido amadurecimento espiritual do homem que busca a Deus. A era cristã trouxe também um notável amadurecimento civilizatório ao ser humano. Tudo ocorreu em seu devido tempo.
Outro exemplo, que também entendo como relativização do cumprimento da boa e perfeita vontade de Deus, ocorreu nos relacionamentos não monogâmicos. É clarividente na Bíblia que Deus estabeleceu o relacionamento monogâmico (Genesis 2.24) como o ideal, a sua verdadeira vontade, contudo, o Antigo Testamento é repleto de casos onde o homem possuía mais de uma mulher. Parece que nos tempos de Paulo ainda havia esse costume (1 Timóteo 2.3), recomendando o Apóstolo à igreja que os pastores fossem maridos de uma só mulher. Paulo provavelmente estava disseminando, como novo costume a ser adotado, a boa e perfeita vontade de Deus para o casamento, que é o relacionamento monogâmico. Esse novo costume seria o referencial de prática para todos os cristãos dali em diante, como de fato ocorreu.
Com Cristo, o cristão recebe o Espírito Santo, transformando a sua mente na de Cristo (1 Coríntios 2.16). Na epístola aos Romanos, capítulo 12, versículo 2, o Apóstolo Paulo exorta a igreja: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
A transformação não é automática, ela exige renúncia de si mesmo, em santificação constante. O Cristão é chamado à perfeição (Mateus 5.48) e muito embora ela ainda não seja alcançável (penso eu), hoje, com o ministério do Filho do Homem (servo do Senhor) cumprido e o auxílio do Espírito Santo, a humanidade possui maior maturidade e preparo para conhecer a perfeita e boa vontade de Deus do que aquela que vivia sob a égide da lei mosaica ou mesmo sem lei, o que implica também em maior responsabilidade espiritual para os que vivem hoje. Talvez ainda não sejamos capazes de conhecer e cumprir a perfeita, boa e agradável vontade de Deus plenamente, coisa que fatalmente acontecerá na parousia (encontro com Cristo), quando veremos a Cristo como ele nos vê (1 Coríntios 13.12).