domingo, 4 de novembro de 2012

O arrebatamento da igreja

  1. Nesse texto pretendo comentar um tema escatológico bem pouco estudado e bastante controverso que é o arrebatamento da igreja e o Dia do Senhor. Confesso que durante minha vida toda, até poucos dias atrás, os temas escatológicos eram pra mim misteriosos e complicados, e muitas coisas simplesmente não pareciam se encaixar, o que me deixava um tanto desestimulado, pois temia me aventurar em vãs discussões, em temas difíceis demais para mim. 
  2. Não, os temas escatológicos não se tornaram fáceis de entender, mas algo realmente mudou minha percepção sobre tais temas, e a coerência e o desencadear dos fatos apocalípticos agora parecem fazer mais sentido.
  3. Existem três teorias escatológicas sobre o arrebatamento da igreja, que são a pré-tribulacionista, midi-tribulacionista e pós-tribulacionista. Sempre acreditei, até porque foi assim que eu aprendi desde criança, que o arrebatamento seria a vinda de Cristo para a igreja antes da grande tribulação, levando os fiéis, que escapariam dos dias de sofrimento que então sobreviriam sobre a terra. Essa é a visão pré-tribulacionista. Já tinha ouvido falar das demais, quando adolescente, mas apenas ouvido falar. 
  4. Foi estudando sobre o tão apregoado Dia do Senhor que comecei a perceber que algumas coisas sobre o arrebatamento antes da grande tribulação não eram fáceis de fundamentar na Bíblia, mas até então nunca havia me passado pela cabeça aderir outra das três teorias sobre o arrebatamento. A primeira complicação eu já havia percebido há muito tempo, que era dividir a vinda de Cristo em duas fases. Eu mesmo, no passado, fundamentava a vinda de Cristo em duas fases, já partindo do pressuposto de que o arrebatamento seria antes da grande tribulação. Não havia outra forma de dar sustentabilidade ao pré-tribulacionismo.
  5. Todavia, e sem querer ser o dono da verdade, hoje entendo de forma diferente. Entendo que não se pode dividir a vinda de Cristo em duas fases para dar sustentabilidade ao arrebatamento antes da grande tribulação. Isto seria uma inversão lógica. Ou a bíblia expressamente fala que o arrebatamento será antes da grande tribulação, de forma a se dar sustentabilidade à divisão da vinda do Senhor em duas fases, ou a bíblia expressamente fala em duas fases. Se isto não ocorrer, teremos duas premissas insustentáveis, pois se inexistem fundamentos para as mesmas, não podem fundamentar uma a outra, e vice e versa.
  6. E se a questão não for apenas de precários fundamentos para a visão pré-tribulacionista, mas de fartos fundamentos para uma das outras duas visões (teorias)? Ora, se a bíblia realmente não der amparo à visão pré-tribulacionista, e der robustos fundamentos à outra, esta deve ser a que devemos acreditar.
  7. Analisemos então, minuciosamente, o que diz as escrituras: (2 Tessalonicenses 2:1-6) Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado.
  8. Com base apenas neste texto bíblico já teríamos grandes argumentos para abraçar, no mínimo, a visão midi-tribulacionista, ou seja, que o arrebatamento será, no mínimo, no meio da grande tribulação, pois nele está dito que o dia de Cristo, que é o dia de sua vinda e o de nossa reunião com ele, não ocorrerá sem que antes sobrevenha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, que é o Anticristo. Ou seja, antes do Dia do Senhor, e de nossa reunião com ele, o Anticristo se manifestará. 
  9. O versículo final tem gerado grandes controvérsias, e alguns pré-tribulacionistas afirmam que nele se fala da igreja, e que enquanto esta estiver na terra, o Anticristo não será revelado. Essa interpretação, todavia, vai de encontro com todos os cinco versículos anteriores, razão pela qual deve ser rechaçada. Uma interpretação lógica e coerente deve partir daquilo que já se sabe, daquilo que já foi informado, e não o contrário. Se uma interpretação vai contra o que está bem claro, esta interpretação não pode ser a certa.
  10. Teorias das mais diversas tentam identificar o que porventura detém a manifestação do Anticristo, mas é certo dizer que o último versículo não dá qualquer amparo à visão pré-tribulacionista, pois estaria desdizendo o que foi dito pelos versículos anteriores, que afirmam que o dia do Senhor não acontecerá antes do Anticristo se revelar. Muitos teólogos fundamentam que não pode ser o Espírito Santo, pois fosse este o caso, falaria em “quem” o detém, e não em “o que” o detém. Todavia, e apenas para argumentar, ainda que fosse o Espírito Santo o detentor da manifestação do Anticristo, no máximo se poderia entender que enquanto Deus não permitir, o Anticristo não poderá se manifestar. Dizer que o Espírito Santo se ausentará da terra na grande tribulação seria um salto interpretativo olímpico, pois seria dizer o que é “o que o detém”, e a partir daí ainda dizer que deixará de deter porque se ausentará da terra. 
  11. A teoria midi-tribulacionista, no entanto, também não é aquela que encontra respaldo nas escrituras. A resposta acerca do momento do arrebatamento é encontrada quando entendemos o que é o grande Dia do Senhor, e o que acontecerá nesse dia. 
  12. Encontramos o termo "Dia do Senhor" muitas vezes na Palavra, sempre relacionado a eventos escatológicos e decisivos para o cumprimento final do plano do Senhor para a humanidade. 
  13. Não há razões para não considerar o Dia do Senhor como um dia literal de 24 horas ou o glorioso dia da vinda de Jesus. Neste pequeno estudo tentaremos mostrar isso. 
  14. Vemos que tanto Paulo como Pedro associam o fato do Dia do Senhor ser comparado à chegada de um ladrão, ao despreparo e incredulidade daqueles que não esperam a vinda de Jesus e até mesmo zombam dessa possibilidade, sendo surpreendidos diante dessa gloriosa vinda (I Tessalonicenses 5:4, II Pedro 3:3-5). 
  15. O Apocalipse mostra de forma contundente que, mesmo em meio à grande tribulação, a maior parte da população mundial vai blasfemar de Deus, fazendo pouco caso de Sua Palavra (veja essa atitude em Apocalipse 9:20-21, Apocalipse 16:9 e 21). Esse comportamento altivo e orgulhoso mudará diante dos sinais do Dia do Senhor. O próprio Senhor tinha revelado que o dia de sua gloriosa volta, logo após a grande tribulação, causaria a lamentação das nações, num comportamento totalmente diferente da presunção e altivez mostrados durante a tribulação: "E, logo depois da aflição daqueles dias, escurecerá o sol, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus (Mateus 24:29-31)”
  16. Todos os termos neotestamentários usados para referir-se à vinda de Jesus, nos dão a idéia de um evento visível, notável e não oculto: ephiphaneia (aparecimento), apokalipsys (revelação) e parousia (vinda-manifestação). Em absolutamente nenhum lugar da Bíblia há referência a um arrebatamento secreto. 
  17. No sentido de que a vinda do senhor será visível e não secreta, temos uma infinidade de passagens bíblicas. Por outro lado, não há qualquer referência a uma vinda secreta de Jesus Cristo. 
  18. Nosso encontro com o Senhor é comumente identificado no novo testamento pelo termo parousia. Originalmente, parousia era uma palavra de uso secular que fora incorporada pela Igreja para indicar a segunda vinda de Cristo. 
  19. Sobre o termo parousia, é possível traçarmos um paralelismo entre duas menções ao termo feitas pelo apóstolo Paulo. A primeira, em 1Ts 4:15, indica que haverá crentes até a chegada do Senhor na parousia. Paulo inclui a si mesmo entre os salvos que esperam a vinda de Cristo: "nós os vivos, os que ficarmos até a vinda (parousia) do Senhor". Já na segunda menção, em 2Ts 2:8, Paulo diz que o iníquo “será destruído pela manifestação da sua (Cristo) vinda (parousia)”
  20. A única interpretação compatível com a visão pré-tribulacionista, é entender o dia do Senhor como um extenso período que começa com o arrebatamento da igreja, desenvolve-se com a grande tribulação, e termina com a sua vinda gloriosa, quando julgará todas as nações. Todavia, esta interpretação também não é acertada. 
  21. A bíblia, quando fala acerca do dia do Senhor, descreve categoricamente eventos que o antecedem, Em Joel 2:31, lê-se: “o sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do SENHOR.” Segundo nos informa o profeta Joel, antes do dia do Senhor, o sol e a lua escurecerão, e haverá uma grande comoção cósmica (ver Apocalipse 6:12 e Mateus 24:29-31). Por meio de tal passagem, fica impossível situar o arrebatamento pré-tribulacional como um evento dentro do dia do Senhor (no início), pois antecedendo este dia sinais manifestos e impressionantes acontecerão, o que vai totalmente de encontro com a idéia de um arrebatamento secreto e invisível. 
  22. O próprio apóstolo Paulo adverte os tessalonicenses que o dia do Senhor não chegaria antes da manifestação do Anticristo. Assim, fica manifesto que o dia do Senhor não pode ser anterior à grande tribulação, perpetrada pelo Anticristo. 
  23. Ademais, o Dia do Senhor não parece de forma alguma estar relacionado ao período tribulacional em si e sim ao dia glorioso da volta de Jesus. O desespero daqueles que não estão preparados para a vinda de Jesus se dará a partir da concretização de sinais que, de acordo com o Mestre, dar-se-ão logo após a grande tribulação (Mateus 24:29, Apocalipse 6:12-17). Como já vimos, durante a tribulação e o governo da besta, as pessoas, em sua maioria, zombarão e blasfemarão de Deus e de Sua Palavra (Apocalipse 9:20, Apocalipse 16:9). A grande e tardia lamentação só virá após os sinais do Dia do Senhor (Mateus 24:30, Apocalipse 6:12-17). Não haverá repescagem. 
  24. Essa dupla conseqüência do Dia do Senhor é confirmada por Paulo, ao ensinar aos irmãos em Tessalônica que a vinda do Senhor traria descanso da tribulação para a Igreja e castigo de eterna perdição (não tribulação) para os ímpios: "E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem. (II Tessalonicenses 1:7-10)".
  25. A primeira vez em que vemos o termo "Dia do Senhor" mencionado na Bíblia é no capítulo 2 de Isaias. O profeta escreve que só o Senhor será exaltado nesse dia (Isaías 2:17). Quando estudamos as profecias apocalípticas, notamos que o Anticristo será adorado como um deus. Consequentemente, o Dia do Senhor e a tribulação não podem ser eventos paralelos. O anticristo não poderá ser adorado no Dia do Senhor, pois Isaias nos revela que somente o Senhor será exaltado nesse dia! Também, todos os ídolos serão abolidos no Dia do Senhor, o que não condiz com a realidade tribulacional, na qual a imagem da besta e outros ídolos serão adorados pela população (Isaias 2:18, Apocalipse 9:20-21 e Apocalipse 13:15).
  26. Zacarias 14:7 indica que o Dia do Senhor será um dia literal, e não um extenso período de tempo que engloba a grande tribulação. O texto hebraico diz literalmente: "esse dia será um". Em Isaías 10.17 está escrito: “Porque a Luz de Israel virá a ser como fogo e o seu Santo por labareda, que abrase e consuma os seus espinheiros e as suas sarças num só dia”
  27. A Bíblia também identifica durante a grande tribulação a salvação de milhares de pessoas, e não identifica estas pessoas como sendo o povo judeu, ou crentes desviados que foram deixados para trás, mas como pessoas de toda tribo, língua e nação, lavadas e remidas pelo sangue do Cordeiro (Jesus Cristo).
  28. Apocalipse 7:9: “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos”. E acerca de tais pessoas, os versículos seguintes explicam (Apocalipse 7:13-14): E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. 
  29. Há, todavia, uma razão doutrinária muito importante para crermos que o arrebatamento da igreja será após a grande tribulação, que é entendermos a razão do arrebatamento. Diferentemente da idéia pré-tribulacionista, que prega que o arrebatamento tem como objetivo poupar os crentes da perseguição e das aflições da grande tribulação, o objetivo do arrebatamento é fazer que o corruptível se revista da incorruptibilidade, que o mortal se revista da imortalidade. Em 1 Coríntios 15:50-54, lemos: "E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória.".
  30. Ainda sobre a razão do arrebatamento, Paulo ensina em 1 Tessalonicenses 4:16-17 o seguinte: "Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." 
  31. Como se vê, nada que subsidie uma vinda secreta do senhor Jesus Cristo, ou mesmo uma vinda incompleta, dividida em fases. Mas o detalhe importante a ser notado é o da ressurreição dos mortos. Paulo fala que os mortos ressuscitarão primeiro, e depois os que estiverem vivos, serão arrebatados. 
  32. Como vimos, durante a grande tribulação haverá salvação (Apocalipse 7:13-14). Como então explicar que estas pessoas na grande tribulação serão salvas se já houve o arrebatamento, e mais que isso, houve a ressurreição? Isto porque a ressurreição dos justos antecede o arrebatamento. Se já houve a ressurreição e o arrebatamento, os que morrerem na grande tribulação, ou sobreviverem àqueles dias, não poderão herdar o reino dos céus, pois se todos nós seremos transformados, como Paulo afirma, em que momento os que forem deixados para trás, segundo a visão pré-tribulacionista, serão transformados? Haveria, então, uma segunda ressurreição e um segundo arrebatamento? De forma alguma, pois a segunda ressurreição é a dos injustos, para o juízo. 
  33. Em apocalipse 20:6, lê-se: “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos”. 
  34. Ora, será que é razoável dividir a primeira ressurreição em duas fases também? Vê-se que não obstante o esforço para se dar coerência à tese pré-tribulacionista, esta é insustentável diante do que relata as escrituras. 
  35. Apocalipse 20:4-5 traz a ordem dos eventos que acontecerão: "E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição." 
  36. A bíblia, por sua vez, sempre coloca a tribulação como um evento anterior à ressurreição. (Daniel 12.1-2) Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto. Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno. I Co 15-52 Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Apocalipse 10:7 Mas, nos dias em que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta, vai cumprir-se o mistério de Deus, da forma como ele o anunciou aos seus servos, os profetas. Apocalipse 11.15 O sétimo anjo tocou a sua trombeta (ver que as trombetas anteriores se dão no contexto da grande tribulação), e houve fortes vozes nos céus que diziam: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre". 
  37. Depois de chegar a conclusão de que o arrebatamento da igreja será posterior à grande tribulação, pude entender como os primeiros crentes se sentiam acerca do glorioso dia da vinda do Senhor. Eles esperavam esse dia porque já acreditavam estar vivendo na grande tribulação, haja vista o surgimento de vários Anticristos, como alguns Césares. O sentimento de desejo pela volta de Cristo será enorme nos dias da grande tribulação. Nestes dias haverá perseguição aos crentes, que serão dispersos pelo mundo, e nessa ocasião, o evangelho será pregado a todas as nações. Não devemos ser céticos quanto à proximidade da grande tribulação. Não faz nem um século que a humanidade conheceu o horror do Nazismo e do Comunismo. Com a crescente aversão à fé em Deus nos países mais prósperos, e um crescente movimento em prol de uma humanidade para poucos (vide neomalthusianismo e movimentos ambientalistas), devemos estar atentos para uma perseguição que nunca antes houve. Maranata!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Tolerância vs Aquiescência



Segundo o conceito, tolerância é a disposição de admitir, nos outros, modos de pensar, de agir e de sentir diferentes dos nossos.
Por definição, a tolerância pressupõe que o tolerado é algo com que não se concorda. Uma guerra semântica, contudo, tem se travado nos mais diversos meios sociais no sentido de transmudar o sentido da palavra tolerância, para convertê-la em verdadeira aquiescência.
Por guerra semântica se entenda o esforço organizado no sentido de mudar a relação dos signos (ex: a palavra tolerância) com aquilo que eles significam. Aquiescência, por sua vez, apresenta significado oposto ao de tolerância. Segundo o conceito, aquiescência é concordância, consentimento, adesão, aprovação, anuência.
É neste contexto, de guerra semântica, que se encontra a questão da homofobia.  Um heterossexual, por definição, é aquele que sente aversão sexual ao indivíduo do mesmo sexo, ou seja, um heterossexual nunca se sentirá atraído sexualmente por uma pessoa do mesmo sexo, ainda que, racionalmente, não tenha objeção a que outras pessoas sejam homossexuais. Partindo deste conceito, é perfeitamente razoável que heterossexuais desaprovem ou não simpatizem com o comportamento homossexual.
Contudo, é notório que o simples direito racional ou íntimo (gosto, consciência ou crença) de não aprovar ou simpatizar com o comportamento homossexual, é taxado, em meio à guerra semântica, de termos que, pelo seu uso, automaticamente associamos com coisas reprováveis, tais como: discriminação e preconceito.
Discriminação, por exemplo, pode ser justa ou injusta. Ao aplicar uma prova, o professor discrimina os alunos que tiraram notas altas daqueles que tiraram notas baixas. Aqueles são aprovados. Estes são reprovados. Ao escolher o futuro cônjuge, as pessoas geralmente fazem uma discriminação rigorosa, baseadas em diversos critérios: qualidades morais, inteligência, aparência física, timbre de voz, formação religiosa etc. Entre centenas ou milhares de candidatos, somente um é escolhido. Os outros são discriminados. Ao selecionar seus empregados, as empresas fazem uma série de exigências, que podem incluir: escolaridade, experiência profissional, conhecimentos específicos, capacidade de relacionar-se com o público etc. Todas essas formas de discriminação são justas, razoáveis e necessárias.
Seria uma discriminação injusta, por exemplo, não contratar determinada pessoa, devidamente qualificada para o cargo, simplesmente por causa de sua cor, pois é uma discriminação sem critério justo. Por outro lado, seria razoável discriminar pela cor um ator que retratará Machado de Assis. Uma vez que o escritor era mulato, é razoável que seja retratado por um ator de mesma cor, e não por um ator branco (como fez a Caixa Econômica Federal em um comercial veiculado na TV, onde Machado de Assis era retratado por um homem branco – “http://www.youtube.com/watch?v=10P8fZ5I1Wk”).
O termo preconceito também padece da mesma deturpação. Um preconceito, em princípio, não é bom ou mau, pois ainda não se tornou um valor consolidado. Um preconceito pode se confirmar como certo, ou se confirmar como errado. É da natureza humana produzir preconceitos, que são defesas contra o desconhecido. Uma pessoa pode ter determinado preconceito quanto à determinada comida, que não conhece, ou possui aparência desagradável. É razoável o preconceito de um recepcionista de hotel em relação a certa pessoa trajada inapropriadamente para o local, pois, segundo o que comumente acontece, tal pessoa pode ser um pedinte, e importunar os hóspedes. Assim, o preconceito é como uma intuição, baseada na percepção que uma pessoa tem da realidade. Apenas quando a percepção da realidade destoa radicalmente do racional é que um preconceito pode ser entendido como uma coisa perniciosa. Se no exemplo do recepcionista de hotel, a pessoa trajada inapropriadamente é um hóspede, o preconceito mostrou-se errado, mas possuía alguma base para existir. O preconceito recomenda a cautela, e não que as pessoas se privem de plano dos mesmos, sob pena de serem presas fáceis de várias circunstâncias da vida.
A guerra semântica relacionada à homofobia tenta converter o conceito de tolerância em aquiescência, forçando a sociedade não apenas a tolerar o comportamento homossexual, mas a aprová-lo, tal como se fosse um comportamento de todo indivíduo. É natural que a maior parte da sociedade não goste da ideia, por exemplo, do beijo gay na televisão, pois sendo a maior parte da sociedade heterossexual, possui natural aversão a tal comportamento (ainda que sem objeções de cunho moral ou religioso). Se um heterossexual deixa de sentir aversão numa manifestação homossexual, tornou-se psicologicamente aberto a abraçar o referido comportamento, o que indica que, se a homossexualidade não é apenas uma questão comportamental (de valores), o comportamento ainda é aspecto deveras importante, pois pessoas não nascidas homossexuais (ad argumentandum tantum) poderiam, mudando seus valores e conceitos, abraçar a prática homossexual. São os valores, por sinal, que impedem as práticas incestuosas de filho com mãe, de pai com filha, pois embora um homem seja atraído sexualmente por uma mulher, e vice-versa, os valores impedem a prática incestuosa, e são capazes de criar verdadeira e insuperável aversão.
Na verdade, a maioria das pessoas intui que o comportamento homossexual não é positivo para elas, seja por questões da própria natureza, seja por meio de valores ainda plasmados na sociedade, mesmo que não tenham refletido profundamente sobre o assunto, razão pela qual há todo um esforço contrário no sentido de transmudar o significado das palavras, de forma a impedir que pessoas expressem o que realmente sentem ou pensam acerca da prática homossexual. É razoável que pessoas, hipoteticamente nascidas homossexuais, tenham aversão sexual à prática heterossexual? É a lógica que explica que ambos os comportamentos (homossexual e heterossexual), elevados à níveis críticos, são auto-excludentes, pois todos os homossexuais nasceram de uma relação (ao menos biológica) heterossexual. Quando uma pessoa tem aversão sexual à prática heterossexual, tem aversão ao modelo/padrão que a colocou no mundo.
Sendo a prática heterossexual não apenas natural, mas necessária, o esforço semântico ideológico no sentido de eliminar a aversão à prática homossexual fatalmente teria como resultado o fim da heterossexualidade como modelo ideologicamente defensável, para dar espaço à bissexualidade, comportamento que coloca a reprodução da espécie num segundo plano, atrás dos desejos sexuais, e não em mesmo plano, como ocorrem nas relações heterossexuais, em que sexo e reprodução caminham juntos. Assim, mesmo que um casal (homem e mulher) opte por não ter filhos, é apenas dentro deste modelo (heterossexual) que poderá ser gerado vida, reprodução da espécie, razão pela qual não se pode reprovar o modelo heterossexual, diferentemente do modelo homossexual (tomando-se como referência a continuidade da espécie). O modelo bissexual, embora aparentemente elimine os conflitos entre homossexualidade e heterossexualidade, pressuporia a ausência de qualquer aversão sexual, seja pelo mesmo sexo, seja pelo oposto, ao passo que a continuidade da humanidade dependeria, irremediavelmente, das relações heterossexuais, mesmo que todos os seres humanos fossem bissexuais.
Assim, o esforço para eliminar a aversão ao modelo homossexual resulta em destruir o único modelo realmente necessário para a continuidade da espécie humana, que é o heterossexual, que sobreviveria apenas residualmente na forma de bissexualidade. Com heterossexuais "convertidos" em bissexuais, a aprovação do comportamento puramente homossexual (e não bissexual) estaria assegurada de forma reflexa, uma vez que nem mesmo os que sentem aversão sexual pelo sexo oposto podem negar que, sem relações heterossexuais, a humanidade não existiria.
Na verdade, um mundo de bissexuais nunca será uma realidade, e os idealizadores da guerra semântica sabem disso. A guerra semântica não pretende converter heterossexuais em bissexuais, mas amordaçar heterossexuais, com o que se chama de linguagem "politicamente correta", de forma a não possuírem palavras (pois estas serão proibidas) para expressar quaisquer sentimentos íntimos ou racionais contrários à prática homossexual. Proibir a aversão sexual ao comportamento homossexual é reprimir, por via oblíqua, o direito de ser heterossexual, é subverter o conceito de tolerância em verdadeira intolerância.