Disse o néscio no seu
coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não
há ninguém que faça o bem (Salmos 14:1).
Por muito tempo, certas condutas
receberam da sociedade a correta rejeição, aversão, reprovação. Sempre houve
imoralidade e maldade, mas tais atributos não eram bem vistos pela sociedade.
Havia também hipocrisia, pois muitos condenavam coisas que praticavam as
ocultas. Faziam isto para serem bem vistos pela sociedade e estarem dentro da
aceitável escala de valores da mesma. Cumprindo ou não com as normas sociais, os
indivíduos tinham um paradigma de moralidade.
Contudo, uma onda de inversão de
valores tornou – como a própria expressão sugere – o certo em errado e o errado
em certo. Quando se condenava alguém por hipocrisia, condenava-se um ato que
destoava dos atos presumidamente esperados. Um exemplo seria alguém que,
conhecido por condenar o adultério, é descoberto na referida prática. Por
óbvio, quando se condenava um hipócrita, não se fazia por endossar o adultério,
mas justamente por ser condenável. A inversão tragicômica se dá quando, ao se
condenar um hipócrita, endossa-se a sua prática, culpando-se a moralidade e não
o adultério.
É o que se vê hoje. Quando um caso de
adultério na igreja chega ao conhecimento da sociedade, ao invés de se condenar
o adultério em si, culpa-se a moralidade cristã. O crente passou a ser
condenado não por sua prática pecaminosa, que o fez hipócrita, mas por ter um
dia condenado hipocritamente tal prática.
A inversão de valores é nada mais que
o corolário da cultura relativista. Uma cultura que despreza a existência de
verdades objetivas não pode defender valores universais. Também não pode fazer
qualquer juízo de valor, pois se referida cultura não permite definir o que
seja valor, com que critério poderá julgá-lo?
A vida prática mostra que é impossível
viver sem valores definidos, pois nestes toda conduta humana é pautada. Viver
sem valores seria viver num mundo fluido, constantemente deformado pela
arbitrariedade de forças do acaso. Seria caminhar numa terra movediça, sem
qualquer segurança de onde se está pisando. Seria também viver temerariamente, assumindo
riscos sem responsabilidade. Todo ser humano tem que definir o que é bom, e o
que é mau.
Numa cultura relativista, todavia,
cada pessoa escolhe o que lhe é bom e o que lhe é mau. A conseqüência é que,
sem homogeneidade de valores objetivos, qualquer coisa pode ser boa ou má. Com efeito,
com que critério um relativista poderia afirmar que a moralidade de Hitler é
inferior a moral de Madre Teresa? Se escolher valores é uma questão de mera
preferência, e não uma questão de que há o certo e o errado, a moralidade de
Hitler seria superior a de Madre Teresa por aqueles que assim preferissem.
Qualquer um poderia preferir o que quiser. E ninguém teria autoridade para
julgar, a não ser impondo a sua “verdade” ao outro arbitrariamente. Não haveria
ordem, mas caos. Um mundo sem lei é um mundo de caos.
Se a pessoa que defende um valor moral
objetivo é arrogante, uma pessoa que afirma que qualquer valor moral é relativo
também o é, pois a afirmação de relativismo tem status de uma verdade objetiva.
Os valores estão se invertendo porque
a sociedade é livre para escolher entre o bem e o mal, e está
escolhendo o mal. Mais que isso! Para não serem apontadas por terem escolhido o
mal, o tornaram relativo. E o pior: tornaram o certo em errado para imporem
suas práticas.
O mal se tornou obrigatório.
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