ISRAEL E A IGREJA
Um
ponto interessante em favor do pré-milenismo histórico é a visão sóbria que
possui sobre Israel e a Igreja, em contraste com a tensão existente entre a visão
do pré-milenismo dispensacionalista e a visão amilenista.
Enquanto
no dispensacionalismo Deus tem um plano específico para com Israel, apartado do
plano de salvação para a igreja (vide arrebatamento pré-tribulacional), no
amilenismo a igreja é o verdadeiro e único Israel de Deus, não existindo um
trato específico para com os judeus seculares.
O
pré-milenismo histórico concorda com o amilenismo quanto à igreja ser o
verdadeiro e único Israel de Deus, mas não ignora as diversas promessas feitas
no antigo testamento a Israel, nem acredita que Deus rejeitou (em sua
totalidade) a descendência natural de Abraão.
Embora
os primeiros cristãos fossem todos judeus, após se abrir aos gentios a Igreja
foi aos poucos se desligando de suas raízes originais. Houve várias causas para
isso, uma das quais foi a destruição de Jerusalém em 70 d.C. O fim das perseguições
aos crentes séculos mais tarde estimulou a crença de que não existiria um
milênio após a segunda vinda de Cristo, fazendo com que os cristãos
desprezassem a história da nação de Israel e o entendimento judaico das
revelações de Deus. Isso preparou o caminho para a Igreja se considerar o novo
Israel de Deus, herdeira de todas as promessas do Velho Testamento (num sentido
meramente espiritual), deixando Israel como povo e nação completamente fora
(por isso muitos amilenistas desprezam por completo o que se sucede atualmente
ao Estado de Israel).
A
crença de que muitas das promessas de Deus feitas a Israel apenas poderão se
cumprir em um milênio após a vinda de Cristo encontra espaço tanto no
dispensacionalismo quanto no pré-milenismo clássico, todavia, para este último,
as promessas feitas a Israel no antigo testamento não dizem respeito somente ao
Israel terreno, mas também à Igreja. O
Israel que reinará com Cristo no milênio é a Igreja formada dos remanescentes
de Israel e pelos gentios de todo povo, língua e nação.
Assim,
nem os judeus (aqui entendido como israelitas em geral) foram esquecidos, como
a intepretação amilenista induz aceitar, nem a igreja é um parênteses na
história do povo de Deus, como afirma o dispensacionalismo, pois a igreja é o
próprio povo de Deus.
E
o apóstolo Paulo deixa isso muito claro na sua epístola aos Romanos:
Porque não quero, irmãos, que
ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o
endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel
será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de
Jacó as impiedades. (Romanos 11:25-26).
Nesta
passagem paulina Israel é citado tanto em sentido terreno como espiritual. “Até
que a plenitude dos gentios haja entrado”
diz respeito à entrada dos gentios nas promessas feitas a Abraão. “Todo o
Israel”, por sua vez, são os crentes israelitas naturais e os gentios (que entraram). O apóstolo Paulo, assim,
não está a afirmar que existe um plano de salvação diferente daquele existente
na igreja, como afirma o dispensacionalismo. É o próprio contexto que refuta
tal ideia:
Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também
eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. (Romanos
11:1)
Digo, pois: Porventura
tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua queda veio a
salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E se a sua queda é a riqueza
do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua
plenitude! Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos
gentios, exalto o meu ministério; Para ver se de alguma maneira posso incitar à
emulação os da minha carne e salvar alguns deles. Porque, se a sua rejeição é a
reconciliação do mundo, qual será a
sua admissão, senão a vida dentre os mortos? (Romanos 11:11-15).
Porque, se tu foste cortado do
natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais
esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! (Romanos
11:24)
Deus
não esqueceu do Israel natural, mas a salvação deste será por inclusão no corpo
de Cristo, que é a Igreja (1 Coríntios
12:27; Colossenses 1:18; Efésios 1-22-23). Cristo não possui dois corpos! Os ramos naturais serão enxertados
na sua própria oliveira, onde os não naturais (ramos do zambujeiro) já estão
enxertados. A rejeição dos judeus representou a reconciliação do mundo, mas a
conversão dos mesmos precederá evento
ainda maior, que é a ressurreição dos mortos (Romanos 11:15). A conversão
dos judeus é o prenúncio da salvação completa de todo o Israel (Espiritual), a
salvação de todos os eleitos de todas as épocas. Deve se frisar que o universalismo para como os judeus, aqui
tratado, é escatológico, e não presente; é representativo, e não
absoluto. A salvação dos judeus não é na carne, mas pela fé em Cristo. Judeus
carnais que não se converterem, no fim das contas, não eram israelitas de fato
(Romanos 9:6-7).
Assim,
os judeus cristãos são parte da
igreja, e os que ainda irão se converter, antes da ressurreição dos mortos,
também integram a igreja. Os crentes (judeus e gentios) que estiverem vivos, por
ocasião da vinda de Cristo (no fim da grande tribulação), e da ressurreição dos
justos, serão transformados. Judeus
carnais não reinarão com Cristo no milênio. Nenhuma carne e sangue poderão
reinar com Cristo na sua vinda ("E agora digo isto, irmãos: que a carne e
o sangue não podem herdar o reino de Deus” – 1 Coríntios 15:50).
A
Igreja é o verdadeiro Israel de Deus:
Porque não é judeu o que o é
exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu
o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na
letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus (Romanos 2-28-29).
Porque nem todos os que são de
Israel são israelitas; Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos
(Romanos 9:6-7)
Portanto, lembrai-vos de que vós
noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na
carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de
Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no
mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já
pelo sangue de Cristo chegastes perto. (Efésios 2:11-13).
Em
Cristo, os gentios são integrados à comunidade de Israel e passam a ser
participantes das promessas que a este foram feitas (Efésios 2:11-13). O Israel
terreno, por sua vez, como povo e território, não foi esquecido, pois dele ainda
virão muitos eleitos, que ainda se converterão. O território de Israel, por sua
vez, sempre foi e continuará sendo palco dos principais eventos bíblicos. O pré-milenismo histórico, por isso, não
vê com indiferença escatológica o que se sucede ao povo judeu e ao atual Estado
de Israel, mas compreende que o verdadeiro Israel é a Igreja, do qual o Israel
terreno, não esquecido por Deus por causa dos eleitos nele existentes, é apenas
sombra.
(Em
breve uma continuação)
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