sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

PRÉ-MILENISMO HISTÓRICO (CLÁSSICO) - 2ª PARTE



ISRAEL E A IGREJA

Um ponto interessante em favor do pré-milenismo histórico é a visão sóbria que possui sobre Israel e a Igreja, em contraste com a tensão existente entre a visão do pré-milenismo dispensacionalista e a visão amilenista.

Enquanto no dispensacionalismo Deus tem um plano específico para com Israel, apartado do plano de salvação para a igreja (vide arrebatamento pré-tribulacional), no amilenismo a igreja é o verdadeiro e único Israel de Deus, não existindo um trato específico para com os judeus seculares.

O pré-milenismo histórico concorda com o amilenismo quanto à igreja ser o verdadeiro e único Israel de Deus, mas não ignora as diversas promessas feitas no antigo testamento a Israel, nem acredita que Deus rejeitou (em sua totalidade) a descendência natural de Abraão.

Embora os primeiros cristãos fossem todos judeus, após se abrir aos gentios a Igreja foi aos poucos se desligando de suas raízes originais. Houve várias causas para isso, uma das quais foi a destruição de Jerusalém em 70 d.C. O fim das perseguições aos crentes séculos mais tarde estimulou a crença de que não existiria um milênio após a segunda vinda de Cristo, fazendo com que os cristãos desprezassem a história da nação de Israel e o entendimento judaico das revelações de Deus. Isso preparou o caminho para a Igreja se considerar o novo Israel de Deus, herdeira de todas as promessas do Velho Testamento (num sentido meramente espiritual), deixando Israel como povo e nação completamente fora (por isso muitos amilenistas desprezam por completo o que se sucede atualmente ao Estado de Israel).

A crença de que muitas das promessas de Deus feitas a Israel apenas poderão se cumprir em um milênio após a vinda de Cristo encontra espaço tanto no dispensacionalismo quanto no pré-milenismo clássico, todavia, para este último, as promessas feitas a Israel no antigo testamento não dizem respeito somente ao Israel terreno, mas também à Igreja. O Israel que reinará com Cristo no milênio é a Igreja formada dos remanescentes de Israel e pelos gentios de todo povo, língua e nação.  

Assim, nem os judeus (aqui entendido como israelitas em geral) foram esquecidos, como a intepretação amilenista induz aceitar, nem a igreja é um parênteses na história do povo de Deus, como afirma o dispensacionalismo, pois a igreja é o próprio povo de Deus.

E o apóstolo Paulo deixa isso muito claro na sua epístola aos Romanos:

Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. (Romanos 11:25-26).

Nesta passagem paulina Israel é citado tanto em sentido terreno como espiritual. “Até que a plenitude dos gentios haja entrado” diz respeito à entrada dos gentios nas promessas feitas a Abraão. “Todo o Israel”, por sua vez, são os crentes israelitas naturais e os gentios (que entraram). O apóstolo Paulo, assim, não está a afirmar que existe um plano de salvação diferente daquele existente na igreja, como afirma o dispensacionalismo. É o próprio contexto que refuta tal ideia:

Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. (Romanos 11:1)

Digo, pois: Porventura tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério; Para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos? (Romanos 11:11-15).

Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! (Romanos 11:24)

Deus não esqueceu do Israel natural, mas a salvação deste será por inclusão no corpo de Cristo, que é a Igreja (1 Coríntios 12:27; Colossenses 1:18; Efésios 1-22-23). Cristo não possui dois corpos! Os ramos naturais serão enxertados na sua própria oliveira, onde os não naturais (ramos do zambujeiro) já estão enxertados. A rejeição dos judeus representou a reconciliação do mundo, mas a conversão dos mesmos precederá evento ainda maior, que é a ressurreição dos mortos (Romanos 11:15). A conversão dos judeus é o prenúncio da salvação completa de todo o Israel (Espiritual), a salvação de todos os eleitos de todas as épocas. Deve se frisar que o universalismo para como os judeus, aqui tratado, é escatológico, e não presente; é representativo, e não absoluto. A salvação dos judeus não é na carne, mas pela fé em Cristo. Judeus carnais que não se converterem, no fim das contas, não eram israelitas de fato (Romanos 9:6-7).

Assim, os judeus cristãos são parte da igreja, e os que ainda irão se converter, antes da ressurreição dos mortos, também integram a igreja. Os crentes (judeus e gentios) que estiverem vivos, por ocasião da vinda de Cristo (no fim da grande tribulação), e da ressurreição dos justos, serão transformados. Judeus carnais não reinarão com Cristo no milênio. Nenhuma carne e sangue poderão reinar com Cristo na sua vinda ("E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus” – 1 Coríntios 15:50).

A Igreja é o verdadeiro Israel de Deus:

Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus (Romanos 2-28-29).

Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos (Romanos 9:6-7)

Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. (Efésios 2:11-13).

Em Cristo, os gentios são integrados à comunidade de Israel e passam a ser participantes das promessas que a este foram feitas (Efésios 2:11-13). O Israel terreno, por sua vez, como povo e território, não foi esquecido, pois dele ainda virão muitos eleitos, que ainda se converterão. O território de Israel, por sua vez, sempre foi e continuará sendo palco dos principais eventos bíblicos. O pré-milenismo histórico, por isso, não vê com indiferença escatológica o que se sucede ao povo judeu e ao atual Estado de Israel, mas compreende que o verdadeiro Israel é a Igreja, do qual o Israel terreno, não esquecido por Deus por causa dos eleitos nele existentes, é apenas sombra.


(Em breve uma continuação)

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